O Festival de Cannes acontece anualmente no balneário francês de Cannes, localizado na Côte d’Azur, a Riviera Francesa.
O portal Conexão Três Pontas, através de sua colunista internacional, Françoise Recco, que é francesa e que reside em Paris e também no Rio de Janeiro, está em Cannes para cobrir um dos maiores eventos do cinema mundial.
Em 1939, revoltada com a corrupção política na cultura europeia, a França decidiu criar, com o apoio de britânicos e americanos, a sua própria premiação. O Festival International du Film, porém, foi cancelado após a exibição de um único longa, O Corcunda de Notre Dame, de William Dieterle. A Alemanha invadira a Polônia e a França entrara para a Segunda Guerra Mundial.
Passada a guerra, o festival retornou ao balneário de Cannes em 1946 e deu início à tradição que hoje completa 70 anos. São quase duas semanas de celebração do cinema, mas também de negócios, glamour e polêmicas.
O Festival du film de Cannes fez sua estreia oficial em 20 de setembro de 1946. O historiador Georges Huisman presidia um eclético júri, que dividiu o Grande Prêmio entre 11 filmes (escolhidos entre os 44 longas em competição). Entre os premiados estavam Desencanto, de David Lean, A Última Porta, de Leopold Lindtberg, Farrapo Humano, de Billy Wilder, María Candelaria, de Emilio Fernández, A Sinfonia Pastoral, de Jean Delannoy, e Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini. Para a sua segunda edição, em setembro de 1947, a organização fez modificações na sua estrutura de avaliação e premiação. O júri, ainda presidido por Huisman, era formado apenas por franceses e os prêmios foram distribuídos por gêneros: Melhor Comédia Musical (o filme coletivo Ziegfeld Follies), Melhor Romance ou Filme Psicológico (Antonio e Antonieta, de Jacques Becker), Melhor Animação (Dumbo), Melhor Filme Social (Rancor, de Edward Dmytryk) e Melhor Filme de Crime ou de Aventura (Les Maudits, de René Clémena).
Essas indefinições iniciais mostram um pouco da capacidade do festival de se transformar. Ao longo dos anos, diversas mudanças foram feitas, do número de inscritos, aos prêmios e à criação de mostras paralelas, buscando sempre aumentar o alcance do Festival de Cannes para influenciar o público e a indústria cinematográfica no reconhecimento do “melhor” da sétima arte.
PALMA DE OURO
A edição de 1949 inaugurou o Grande Prêmio do Festival, entregue a O 3º Homem, de Carol Reed. O festival de 1951, que dividiu o grande prêmio entre Senhorita Júlia, de Alf Sjöberg, e Milagre em Milão, de Vittorio De Sica, deu origem ao Prêmio Especial do Júri, que ficou com A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz. Em 1952, Due Soldi di Speranza, de Renato Castellani, e Othello, de Orson Welles, dividiram a então graça máxima de Cannes, que também premiou a atuação de Marlon Brando em Viva Zapata!. Na edição de 1953, o júri do presidente Jean Cocteau premiou O Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot, e entregou o Prêmio do Júri a Walt Disney, por sua contribuição na divulgação do festival. No mesmo ano, voltaram categorias de gênero, como adições inusitadas como Melhor Conto de Fadas (Valkoinen peura, de Erik Blomberg) e Melhor Filme de Entretenimento (Lili, de Charles Walters). Em 1954, a premiação honrou Jigokumon, de Teinosuke Kinugasa, com o Grande Prêmio e escolheu, entre outros, o Melhor Curta de Fantoches (O Sklenicku Vic, de Břetislav Pojar) e o Melhor Filme Poético (The Pleasure Garden, de James Broughton).
É em 1955, porém, que o Festival de Cannes encontra o seu prêmio definitivo: a Palma de Ouro. O visual é inspirado na folha que orna o brasão da cidade de Cannes e foi desenhada originalmente pelo joalheiro Lucienne Lazon. O júri, então presidido pelo cineasta francês Marcel Pagnol, entregou a honra máxima para Marty, filme de Delbert Mann, estrelado por Ernest Borgnine. O troféu permaneceria no topo até 1963 – sento entregre a The Silent World, de Jacques-Yves Cousteau e Louis Malle, em 1956; Sublime Tentação, de William Wyler, em 1957; Quando Voam as Cegonhas, de Mikhail Kalatozov, em 1958; Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus, em 1959; A Doce Vida, de Federico Fellini, em 1960; Uma Tão Longa Ausência, de Henri Colpi; e Viridiana, de Luis Buñuel, em 1961; o brasileiro O Pagador de Promessas, de Alselmo Duarte, em 1962; e O Leopardo, de Luchino Visconti, em 1963 – e foi substituído em função de direitos autorais pelo Grande Prêmio, entregue em 1964 a Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy. O prêmio foi reintroduzido em 1975, entregue a Chronique des Années de Braise, de Mohammed Lakhdar-Hamina, e se consagrou como um dos mais prestigiados, e ecléticos, troféus do cinema.
Festival de Cannes 2016: Candidato à Palma de Ouro ou decepção? Crítica diverge sobre a comédia Toni Erdmann
O Festival de Cannes chegou à sua metade e, ao menos por enquanto, não há um franco favorito à Palma de Ouro. Quer dizer, mais ou menos.
A comédia alemã Toni Erdmann, dirigida por Maren Ade, conquistou o coração de muita gente e lidera os painéis de notas das revistas Screen e Le Film Français. Ou seja, é um bom candidato ao prêmio máximo do festival. Só que está longe de ser unanimidade, como demonstra a crítica do portal AdoroCinema.
Em Cannes, muita gente justifica a preferência por Toni Erdmann pelo fato de “ser um filme leve em meio a tantos violentos”. Mesmo se não ganhar a Palma de Ouro, o longa ainda pode ser lembrado pelo trabalho de seus atores principais, Peter Simonischek e Sandra Hüller.