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  • ECOLOGIA & DIREITO: TRAGÉDIA ESTRONDOSA Por José Maurício 

    ECOLOGIA & DIREITO: TRAGÉDIA ESTRONDOSA Por José Maurício 

    Biodiversidade do Rio Doce antes do desastre ecológico

    O que levou milhares de anos para ser ricamente construído, foi completamente arruinado em alguns dias. Parece paradoxal, mas é lastimoso fato concreto.

    Assim ocorreu com o bioma (conjunto de seres vivos) da Bacia do Rio Doce, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Cultura, Ciências e Educação (Unesco) como Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade, figurando na lista dos Sítios Ramsar – zonas úmidas.

    Pelo que consta, mais de nove toneladas de peixes – uma quantidade de proporção estarrecedora – foram cruelmente exterminadas pelo assolador ‘tsunami de lama tóxica’, da mineradora Samarco, causando drástico e insólito desequilíbrio ambiental, dor e desespero às populações ribeirinhas, que tinham na pesca sua única fonte de sobrevivência.

    Foto de pescador chorando: ícone da tragédia

    Mais de oitocentos extensos quilômetros de curso de água do Rio Doce, até a foz, no Espírito Santo, foram devastados, naquele que é considerado ‘o maior e mais horrendo desastre ambiental já visto no país’.

    O que não pode ser desconsiderado é que o estado é o corpo e que as regiões atingidas pela tragédia tipificam-se como um membro vital desse corpo. Assim, é incontroverso que toda Minas Gerais foi duramente afligida pelo trágico evento.

    O que não pode ocorrer, de modo algum, é o desvão do esquecimento, pena de incentivo ao flagelo, como tal, doloroso e lesivo.

    Além de todo o imensurável rastro de destruição do ecossistema, que se assemelha, em verdade, a um ‘cenário de guerra’, não se pode esquecer de que vidas humanas se perderam no município de Mariana, cidade mais antiga das Gerais e sua primeira capital.

    Indispensável é que o meio ambiente seja, finalmente, reverenciado como essência da vida, devendo ser pranteado enquanto vítima do desprezo e sujidade humanos, como agora acontece, tristemente.

     

    ATÉ A PRÓXIMA!!!

    O articulista deste segmento é José Maurício Girardelli Lopes, advogado, radialista e jornalista.

    Trajetória profissional: Rádio Três Pontas A.M., Rádio Cultura de Alfenas, EPTV Sul de Minas.

  • DIREITO E ECOLOGIA Por JOSÉ MAURÍCIO: Rio Amargo

    DIREITO E ECOLOGIA Por JOSÉ MAURÍCIO: Rio Amargo

    Rio outrora doce, belamente cantado pelo compositor e poeta mineiro Zé Geraldo, hoje amargo pela ação de indesejáveis dejetos químicos letais e devastadores.

    Seus pobres seres habitantes, como peixes, mariscos e moluscos, condenados à extinção por metais pesados, cancerígenos, venenosos, destrutivos.

    Nunca mais é uma expressão lacônica, a que os homens deveriam se acostumar. Nunca mais à pulcritude das águas caudalosas e saudáveis. Nunca mais à maviosidade do cântico da imensidão dos pássaros livres. Nunca mais aos sentimentos nobres da conservação, por reverência ao Criador, que a todos presenteou com matizes e colorações de beleza incomparável.

    O que pode ser feito para reparar o que é desgraçadamente irreparável? Quando? Como?

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    Os danos causados são eternos, pois estarão entranhados na história do Distrito de Bento Rodrigues e Mariana (MG), como página fétida do descaso humano ante o dever de preservar sua própria estrutura existencial.

    Sessenta bilhões de litros de rejeitos de mineração de ferro – o equivalente a 24 mil piscinas olímpicas – foram despejados ao longo de mais de 500 km na bacia do Rio Doce, a quinta maior do país.

    Segundo ecólogos, geofísicos e gestores ambientais podem levar décadas, ou mesmo séculos, para que os prejuízos ambientais sejam revertidos.

    Destruídos pelo ‘tsunami marrom’, que deixou dezenas de mortos e 15 desaparecidos, os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo devem se transformar em desertos de lama.

    “Esse resíduo de mineração é infértil porque não tem matéria orgânica. Nada nasce ali. É como plantar na areia da praia de Copacabana”, diz Maurício Ehrlich, professor de geotecnia da Coppe-UFRJ (centro de pesquisa em engenharia da Federal do Rio).

    “Nada se constrói ali também porque é um material mole, que não oferece resistência. Vai virar um deserto de lama, que demorará dezenas de anos para secar”, diz.

    Segundo ele, a reconstituição do solo pode levar “até centenas de anos, que é a escala geológica para a formação de um novo solo”.

    Transformado em uma correnteza espessa de terra e areia, o Rio Doce não pode ter sua água captada. O abastecimento foi suspenso, e cerca de 500 mil pessoas estão com as torneiras secas.

    Especialistas que conhecem a região descrevem o cenário como “assustador”.

    Para Marcus Vinicius Polignano, presidente do Comitê de Bacia do Rio das Velhas e professor da UFMG (Federal de Minas Gerais), um dos mais graves efeitos do despejo do rejeito nas águas é o assoreamento de rios e riachos, que ficam mais rasos e têm seus cursos alterados pelo aumento do volume de sedimentos, no caso, de lama. “É algo irreversível. Fala-se em remediação, mas, no caso da lama nos rios, não existe isso. Não tem como retirá-la de lá”.

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    Enquanto está em suspensão no rio, a lama impede a entrada de luz solar e a oxigenação da água, além de alterar seu pH, o que sufoca peixes e outros animais aquáticos. A força da lama ainda arrastou a mata ciliar, que tem função ecológica de dar proteção ao rio.

    “A perda da biodiversidade pode demorar décadas para ser reestabelecida. E isso ainda vai depender de programas montados para esse fim”, diz Ricardo Coelho, ecólogo da UFMG. “Existe ainda a possibilidade de espécies endêmicas [que existem só naquela região] serem extintas”.

    “Há espécies animais e vegetais ali que podemos considerar extintas a partir de hoje”, diz o biólogo e pesquisador André Ruschi, diretor de uma das mais antigas instituições de pesquisa ambiental no país, a Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi.

    Ele chama a atenção para o fato de que o rompimento das barragens coincidiu com o período de reprodução de várias espécies de peixes. “É o maior desastre ambiental da história do país”, avalia.

    Mariana entra para a história como uma “ferida aberta”, diz Polignano. “É a prova de que nossa gestão ambiental está falida”.

    Esse é o retrato de um desafortunado tempo, que se aproxima de seu desfecho. Tudo obedece, compassadamente, ao destempero da arritmia dos atos desvairados, que caminham em paralelo: megainflação, desatinos, terrorismo, mortandade.

    O mundo negligencia as regras do Criador Supremo e isto tem um preço: o abismo.

    ATÉ A PRÓXIMA!!!

    *O articulista deste segmento é José Maurício Girardelli Lopes, advogado, radialista e jornalista.

    Trajetória profissional: Rádio Três Pontas A.M., Rádio Cultura de Alfenas, EPTV Sul de Minas.