O que vou desabafar não é novidade, infelizmente nada casual. É rotineiro, contexto do dia-a-dia, mais do mesmo. O que venho falar, justamente por ter se tornado banal, me causa perplexidade, incredulidade, revolta e tristeza. A falta de respeito com o ser humano passou dos limites, exacerbou a racionalidade e a lógica. Vivos saudáveis, agonizantes ou mortos, as pessoas têm sido alvo da crueldade e da insensibilidade de seres (dito humanos) que armados, com celular ou câmera fotográfica, se divertem ao registrar momentos de dor, tristeza, desolação, desespero, pavor e sofrimento. Ou seja, muitos, de fato, estão rindo da desgraça alheia. Mais que isso: estão perpetuando, compartilhando e viralizando conteúdos que chocam, causam mais dor e lamentação, principalmente aos familiares.

Estamos vivendo a geração do “tudo me é permitido”, “tudo é legal”. Estamos vivendo a geração do “mimimi”, onde qualquer defesa da ética, dos bons costumes, do respeito e dos princípios de civilidade estão sendo massacrados, deixados de lado e seus defensores vistos como dinossauros, monstros ultrapassados, arcaicos, pessoas antiquadas. Estamos vivendo a geração onde a banana está comendo o macaco de paletó, gravata e adepto de postar nudes.

Estamos todos de quatro ou de joelhos diante da insensibilidade, da falta de amor e respeito para com outro semelhante. Se mata apenas para se ver o buraco da bala e o sangue escorrendo.  Estupram, roubam e sequestram sabendo que a impunidade impera há mais de quinhentos anos nesta Terra de Santa Cruz.

Hoje, dia 8 do mês 6, do ano 18 pós 2000, não consigo calcular o número de vidas que foram perdidas nesse asfalto da MG 167. Sei que foram centenas, talvez milhares. Hoje praticamente foi mais um, vão dizer “só mais um”. Um jovem que se arrebentou numa colisão entre moto e van. Agonizou e chegou praticamente morto no hospital. Mas nem mesmo depois dessa tragédia encontrou paz. É que muitos urubus miseráveis, aproveitadores da desgraça humana, nem esperam a vida parar de lutar e já sacam suas “metralhadoras insanas” e disparam clicks e mais clicks. Clicks sem fim, fotografias aos montes.

Sem terem algo produtivo na vida para fazer, supostamente, lançam nas redes sociais, compartilham, comentam, viralizam. YesI Yup!!! Massa né! Sim, massa encefálica moída no chão quente, tecidos, pele, membros, sangue, vidas, pessoas, filhos e filhas de alguém, pais e mães de alguém. Gente desconhecida ou não que merece respeito na vida e na morte. Gente que é vilipendiada de forma vil, voraz e frenética.

Esse jovem que teve seu corpo arrebentado com essa brutal colisão caiu e ainda lutou pela vida, ficou de quatro, ficou de joelhos enquanto sangrava, meio que em oração, pedindo a intervenção e a cura ao Médico dos Médicos.

Só não sabia que seria protagonista de um espetáculo de horrores. As fotos compartilhadas mostram isso.

Mais um apenas. Seria exposto pro mundo todo, pra quem queira ver, rir, aumentar o zoom e ver os detalhes sórdidos de uma vida se esvaindo.

Estamos todos nós, que acreditamos ter um resquício de bom senso pelo menos, dilacerados com essa exposição do terror.

Hoje foi com esse jovem, ontem foram outras vítimas, incontáveis, de acidentes ou da violência, igualmente sem freio.

Aqui em três Pontas, recentemente, foi assim. Sem fazer julgamento daquelas pessoas investigadas numa mega operação policial, surgiram centenas de sanguessugas fotografando, compartilhando a desgraça alheia. Brotaram repórteres, jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos, etc. Teve gente (alguns até de comportamento tão questionável quanto aqueles encarcerados) que faltaram entrar na viatura policial, no “forninho”, para registrar aquele momento ímpar.

Gente que, de celular na mão, facilmente poderia estar usando um uniforme laranja, mas que estavam ali se gabando, tripudiando e desrespeitando familiares.

Não defendo bandido! Cometeu crime que pague! Cadeia neles!!! Mas quem sou eu pra julgar? A Justiça que faça os julgamentos na Terra e Deus no Céu! E muitas vezes postam horrores sobre pessoas que sequer condenadas foram. Até fotos de menores infratores andam publicando.

Lembremos que o mundo dá muitas voltas, hoje você clica essas cenas tristes, amanhã o ator pode ser você ou alguém da sua família. Afinal, atrás de uma roupa da Suapi há um filho, um pai, uma mãe, um irmão. Dentro de um capacete cheio de sangue há não apenas uma, mas várias vidas.

“Que atire a primeira pedra quem nunca errou”, disse uma vez um certo Homem…

Já cobri reportagens trágicas onde pais levaram seus filhos, crianças até de colo, para acompanhar o trabalho da perícia. Plateia de todos os níveis e idades para “aplaudir” aquele momento.

Estamos todos de joelhos e de quatro, a mercê da insensibilidade humana, da falta de amor e de compaixão.

Sinto muito…

 

Texto Jornalista Roger Campos

MTB 09816

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Roger Campos

Jornalista

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