Três Pontas é uma cidade historicamente agrícola e que ainda hoje depende fundamentalmente da cafeicultura como a base de sua economia. E a dependência do café se torna ainda mais latente em momentos de recessão, de crise como a atual que assola o País. Para saber sobre o início da colheita do café, os números e expectativas para Três Pontas e ainda abordar outros temas de grande relevância, nós conversamos com Jorge Luís Piedade Nogueira, diretor técnico industrial da Cocatrel, a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas:
Xtp – Qual a real situação do café neste momento?
Jorge Luis – Esse ano nós temos uma safra melhor. Nós estamos vindo de duas safras baixas devido aos problemas climáticos. E como o tempo ajudou no ano passado, a situação melhorou e normalizou para esse ano de 2016. Não será uma safra recorde, porque as safras estão bem estabilizadas devido aos sistemas de podas usados mais recentemente. São lavouras que são zeradas num ano e que colhem café no ano seguinte. Outro fator é que a safra, o ano agrícola se iniciou com uma falta de chuvas. Felizmente depois isso se normalizou. O crescimento de ramos, que é muito importante na safra do cafeeiro, se inicia um ano antes da produção e não tivemos esse crescimento normal no ano passado. Mas na época de florada e enchimento de grãos a precipitação (chuva) se normalizou e assim teremos uma safra de normal para boa.
Xtp – Traduza isso em números.
Jorge Luis – Eu acredito em 50 milhões de sacas no Brasil. Três Pontas deverá ter uma safra de mais ou menos 700 mil sacas. Se a gente for comparar com os dois últimos anos, trata-se de um número bom para Três Pontas. Nesses anos anteriores os números ficaram em 500 mil sacas por ano. Mas se for comparar com safras boas de 800 mil sacas, realmente fica um pouco atrás. Essas 700 mil são o número de sacas que entram na Cocatrel. Três Pontas deve ter, pelo último levantamento da Conab, cerca de 22 mil e quinhentos hectares. Temos uma média de 30 sacas por hectare, o que dará mais de 700 mil sacas. Isso mostra que 80% do café da região passa pela Cocatrel.
Xtp – Como você analisa o preço atual comercializado da saca de café?
Jorge Luis – O preço médio de R$ 500,00 hoje não está ocorrendo mais. Nesse momento está em torno de R$ 480,00 e deveria estar mais um pouco. O custo de produção subiu muito e eu acredito que o estoque interno no Brasil é baixo. A demanda mundial é alta e acredito que, por isso, o preço deveria estar melhor.
Xtp – Qual a situação atual do produtor? Há muitas dívidas? Ele está encontrando crédito? O atual momento da economia tem provocado quais reflexos na cafeicultura?
Jorge Luis – O produtor, a maioria dele, tem algum problema, alguma dificuldade com crédito. Quanto ao momento político, graças a Deus, a cafeicultura em particular, devido a demanda muito aquecida, não sofreu muito com essa crise. O agronegócio café é muito forte. O momento influenciou muito o câmbio e o preço final do café se manteve num patamar médio.
Xtp – Quais as perspectivas, num curto prazo, para a nossa cafeicultura?
Jorge Luis – Eu acredito que devido ao estoque baixo e demanda alta teremos preços que cobrem o custo de produção. Não acredito numa mega oferta de café num curto prazo. Nos próximos dois anos teremos preços bons do café e, claro, dependerá muito do clima. Preço muito baixo eu acho bem difícil.
Xtp – A Cocatrel, pelo que consta, não estará na organização da Espocafé, a maior feita do agronegócio café neste ano. Será apenas expositora. É isso mesmo?
Jorge Luis – A Expocafé desse ano terá a coordenação toda a Epamig. Será uma feira grande, com muitas novidades e a Cocatrel terá o seu estande em comemoração aos seus 55 anos.