Com base em estudos do homem do Sudário de Turim e com os recursos da inteligência artificial, Átila Soares da Costa chegou à imagem que pode representar o verdadeiro rosto da Mãe de Jesus. Nesta entrevista, ele revela os resultados surpreendentes deste trabalho, que já teve repercussão internacional.
“Semblante forte, mas solene; uma mulher dramaticamente compromissada com a missão e o sacrifício do Redentor… seu filho”. Essas são as principais características que emanam do rosto de Maria recriado pelo professor e designer brasileiro Átila Soares da Costa Filho.
Os estudos para tentar chegar ao que seria a fisionomia da mãe de Jesus duraram quatro meses e foram desenvolvidos com o que há de mais moderno em tecnologia de imagem e inteligência artificial. O surpreendente resultado teve repercussão internacional, com referência, inclusive, no site que tem o maior número de informações sobre o homem do Sudário de Turim (base deste estudo).
Nesta entrevista especial ao portal Aleteia, o professor explica os detalhes do seu importante experimento.
Aleteia – O que o motivou a tentar chegar ao que seria o rosto da Virgem Maria?
Átila – Um grande interesse meu pelo Paleocristianismo, ou Cristianismo primitivo. Algo que vem, na verdade, desde minha infância. Quando percebi, nos últimos meses, de que já se poderia dispor de tecnologia para uma boa aproximação com o que deva ter sido a fisionomia de Maria por meio de um silogismo simples (a respeito do Santo Sudário), imaginei que o momento era agora. O silogismo em questão é: se temos o rosto do homem da Síndone, e se este for Jesus ressuscitado, então podemos ter também o de sua mãe – tendo em vista a excepcionalidade do fenômeno da imaculada conceição. Aliás, me debruçar e estudar tudo que tenha a ver com iconografia cristã vem fazendo parte de meu cotidiano há décadas: seja enquanto peça arqueológica, seja enquanto obra de arte sacra.
Aleteia – Por que utilizar como base o rosto de Cristo? E como podemos crer que Jesus tinha os traços físicos de Maria, já que, de acordo com a Igreja Católica, ele foi concebido pelo Espírito Santo?
Átila – Esta é a pergunta-chave. Vejamos: o pensamento católico mais tradicional entende que, na verdade, Jesus teria recebido 50% do DNA de Maria, humana, e os outros 50% do Espírito Santo, imaterial, numa concepção completamente imaculada. Especificamente sobre isto, o Papa Pio IX, no ano de 1854, proclamará a bula Ineffabilis Deus, definindo a doutrina da Imaculada Conceição de Maria. Em tempo, lembremo-nos que Cristo era comumente referido como “da descendência (ou Casa) de Davi”, e “de linhagem real” – apenas pelo lado da mãe. Somando-se a isto, Jesus jamais negou Sua herança judaica – fosse em qualquer nível -, o que nos leva a considerar também uma condição genética para o Cristo-homem em relação à pessoa de Maria. Veja bem, segundo as Escrituras, José, por ser pai adotivo de Jesus, não teve participação biológica na formação carnal do Messias. A natureza desta consubstanciação (como defende a Igreja Católica) se traduz por uma concomitância teológica cuja consequência foi o Cristo-homem como reprodução biológica exclusivamente da mãe – já que, também sendo Ele Deus, se fizera carne através da “união hipostática da natureza divina e humana”. Então, restaria somente à Maria, sua mãe, esta atribuição no que tange a natureza humana. Claro que sempre teremos discussões a este respeito, mas é bem razoável supor que o material biológico que definiria a aparência de Jesus, ao achar sua herança genética apenas em Maria (por ser humana e, não, imaterial), teria definido a aparência daquele – o “fruto do ventre” – muito similar ao desta, sua única progenitora carnal.
Raciocinemos: mesmo que fosse dos planos divinos uma completa dissociação de Cristo com a genética humana, a lógica nos impele a crer que, ainda assim, o filho se parecesse com a mãe. Isto, para que suas vidas seguissem um curso relativamente normal e em sintonia com a naturalidade das leis do universo… pelo menos, na maior parte do tempo (visto que Jesus não era um homem comum). Ou, simplesmente, Ele se pareceria com a mãe a fim de se poupar a Sagrada Família de inconvenientes desnecessários gerados pela aparência física de um filho que nada a tenha a ver, pelo menos, com a mãe. Ou seja, esta probabilidade da grande semelhança entre os dois – seja pela Teologia, ou pela lógica simples – é imensa, por demais.
Aleteia – Quais foram as etapas do estudo?
Átila – Primeiramente, quis analisar as pesquisas do designer americano Ray Downing que, em 2010, envolveu-se num projeto com a mais avançada tecnologia forense para revelar a verdadeira face do homem no Sudário de Turim. Até hoje, os resultados de Downing são considerados os mais autênticos e bem aceitos dentre todas as tentativas já realizadas. Pegando este rosto como base, realizei várias experimentações com softwares de inteligência artificial e alta tecnologia de redes neurais convolucionais para mudança de gênero. A seguir, outros programas para ajustes faciais e, finalmente, alguns retoques artísticos manuais de minha parte – a fim de melhor definir uma fisionomia étnica e antropologicamente feminina da Palestina de 2000 anos atrás – obviamente, sem tanto comprometer o que a inteligência artificial já me havia entregue em sua estrutura. Então, com a mesma tecnologia pude chegar à adolescência da Virgem quando, supostamente, teria dado à luz.
Por fim, me dediquei à pesquisa teológica envolvendo a concepção imaculada de Maria, onde eu precisaria de um bom suporte teórico, a fim de justificar os resultados de meu trabalho e ao que ele exatamente se propunha. Ou seja: se se acredita que foi o corpo do Filho de Deus envolvido naquele tecido, então, com um altíssimo grau de probabilidade, o rosto de Sua mãe é este, em diferentes etapas da vida, ora apresentados.
Vale observar que as conclusões deste projeto foram aprovadas pelo maior sindonologista do mundo, o pesquisador e conferencista Barrie M. Schwortz, fotógrafo oficial do histórico Projeto STURP. Inclusive, a convite do próprio, este experimento foi incluído no SHROUD.COM, a maior e mais importante fonte de informações sobre o Santo Sudário já compilada – onde Swortz é fundador e administrador.
Aleteia – Quais as características do rosto de Maria o senhor acredita que sejam mais marcantes e condizentes com as Escrituras e à tradição?
Átila – Sobretudo, dois aspectos: a beleza plástica e a dignidade que este rosto emana. Voltemos ao pensamento medieval em Santo Agostinho, que assegura a fonte da beleza residir na própria bondade emanada por Deus. Ora, entendendo-se Deus como a essência do Bem, então Ele é Verdade e Beleza (estética). Obviamente, Maria – aquela que conceberá o Filho do Criador (o Pai) – deverá espelhar esta Sua propriedade: sendo ela, então, muito bela. Estão dentre alguns dos santos – incluindo doutores da Igreja – que fizeram referência à (grande) beleza física da Virgem: Santo Ambrósio, São João Damasceno, Santo Antônio, São Tomás de Vilanova e São Francisco de Sales.
Assim, trago uma Maria aparentando entre 25-30 anos de idade: semblante forte, mas solene; uma mulher dramaticamente compromissada com a missão e o sacrifício do Redentor… seu filho. Maria é glória, mas também é dor e entrega total. Por outro lado, resolvi escolher também uma versão adolescente para os traços faciais da mãe de Jesus. Desta feita, quis apresentá-la sorridente: é o viço do esplendor da juventude, a representação da alegria e das expectativas, das promessas e da esperança sobre uma vida que apenas começa… ainda mais quando se descobre que será a mãe do Messias.
Aleteia – O senhor tem alguma religiosidade? Se sim, como a fé interfere neste tipo de trabalho?
Átila – Fui batizado na Igreja de Roma e recebi os sacramentos até a Crisma, e segui como praticante até meus 31 anos (hoje tenho 48). Minha mãe é católica muito devota desde a infância, ao passo que meu pai (falecido em 2006) era de família protestante e seguia a doutrina luterana. Ainda que eu não exerça mais a prática ritual, permaneceu em mim um grande respeito e admiração ao Cristianismo – e, em especial ao Catolicismo – que ainda funciona como força motriz para minhas pesquisas acadêmicas, tendo em vista a riqueza infinita de seu material histórico-filosófico-artístico. Conversas entre mim e padres católicos e ortodoxos, seminaristas, teólogos e afins sempre foram uma constante – aí incluo o padre catalão Jorge Loring Miró, um dos maiores experts do mundo sobre o Sudário (falecido em 2013). O Cristianismo, em si, já é algo tremendamente inspirador. E desenvolver este projeto, a cada fase, tem sido uma experiência sem palavras à altura para se descrever: lidar, nada mais, nada menos, com a possível revelação do rosto da mãe de Deus – algo que a humanidade apenas especulou durante dois mil anos – não é o que eu chamaria de uma atividade corriqueira. Quero salientar que, apesar disto tudo, meu critério tem sido estritamente técnico e cartesiano para chegar a estes resultados.
Aleteia – Pretende realizar estudos de outros rostos? De José, por exemplo?
Átila – A princípio, penso em algum desdobramento sobre este, de Maria. Ainda não sei sobre o quê exatamente, nem como, mas há uma pré-disposição forte minha para tal. Espero que o tempo me guie e me revele. Sobre o rosto de José – diferentemente com o de Maria -, penso que não haver absolutamente nenhuma materialidade ou, mesmo, ponto de partida substancial para tal experimento. Ele não teve absolutamente nenhuma participação biológica, carnal na pessoa de Jesus… e nada há de registro arqueológico sobre o mesmo. Em suma: seria totalmente inviável algo assim. Triste se dar conta mas, muito provavelmente, jamais o saberemos nem mesmo a título de uma hipótese mais responsável.
Aleteia – Como é para alguém que nasceu em um dos países mais católicos do mundo desenvolver um experimento como o seu, com reconhecimento internacional?
Átila – Para ser muito franco, em nenhum momento tomei isso em consideração. Pensava mais em termos de “Mundo Católico” (e não de “Brasil Católico”). Não apenas na vertente romana, mas em todas as suas variantes… ou, mesmo, sobre qualquer indivíduo que tivesse fé na ressureição de Cristo e no Santo Sudário enquanto relíquia, independentemente de seu credo. Seja como for, pertencer ao país mais cristão e, principalmente, católico do mundo em números absolutos, não deixa de ser algo que me traga certa satisfação e sensação de conforto.
*Átila Soares é professor e autor de 4 livros. Com referências em mais de 30 países, é graduado em Desenho Industrial e especialista em História, História da Arte, Igreja Medieval, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. Também é colaborador na revista “Humanitas” (Ed.Escala, São Paulo) e nos sites “Italia Medievale” (Milão) e “Nova Acrópole” (Lisboa). Ainda integra o comitê científico na Mona Lisa Foundation (Zurique), na Fondazione Leonardo da Vinci (Milão) e no projeto L’Invisibile nell’Arte (Roma).
Fonte Aleteia
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