“Artesão: indivíduo que se dedica a ofício manual, artífice”; “Artesanato: ofício e método de trabalho do artesão, obra do artesão”. (LAROUSSE Ática, Dicionário da Língua Portuguesa).

Nos dias atuais desse século XXI (Anos 2000), artesanato e artesão tornaram-se termos comuns de se ouvir e, de tão repetidos, parecem ter, até mesmo, perdido um pouco de sua dimensão e origem. Artesanato, entenda-se aqui como o produto artesanal, feito a mão, está na moda. Nada mais chic, mais “IN” do que mesclar em um ambiente, seja em espaço gourmet ou na decoração de interiores, o clássico e/ou industrial, com peças artesanais. O que significa um toque de leveza, de valorização do que é feito pelo ser humano, literalmente com a mão na massa. É como misturar a beleza de um móvel de madeira, que apesar do adjetivo de belo, pode ser uma peça pesada e dura, com outro de ferro, proporcionando leveza ao ambiente.

Voltando ao tema da valorização do que é feito pelas mãos do homem e não por máquinas, há nessa tendência de aliar o industrial e o artesanal, mais que um modismo passageiro. Por trás disso se esconde um desejo. O desejo de relembrar quem somos, de onde viemos e o que somos capazes de fazer. Ou seja, o desejo de  lembrar que, antes da Revolução Industrial dos séculos XVII e XVIII, éramos nós mesmos que fazíamos nossas cadeiras, mesas, roupas (desde o fio até a roupa em si), até mesmo os alfinetes que usamos.

Na Baixa Idade Média, séculos XI a XV, com a decadência do Feudalismo e consequente migração da população dos Feudos (vilas campesinas) para os burgos (pequenas cidades) e com a reativação dos trabalhos artesanais e do comércio, tudo era produzido manualmente. Os artesãos (tecelões, carpinteiros, marceneiros e outros) se organizavam em grupos, que se chamavam corporações de ofício,  a fim de controlar o fornecimento dos produtos, regulamentar e repassar o ofício aos jovens artesãos.

Essa valorização do produto artesanal, portanto, é mais que uma tendência, tem a ver com a memória coletiva da humanidade de um tempo em que, mesmo com tantas atrocidades e violência das guerras da época, tínhamos uma vida mais simples, menos complexa. Admite-se, sem dúvida alguma, que as inovações tecnológicas, no avançado grau a que chegamos, nos proporciona facilidades e muito mais conforto. Por outro lado, o preço a pagar por isso é alto: há um cansaço mental generalizado. É muita informação, ninguém pode se desconectar, relaxar em momento algum, o que, muitas vezes, exaure nossas energias. Daí o desejo, talvez inconsciente, de reviver, nem que por instantes, ao se deparar com uma peça artesanal, a vida simples que tivemos um dia. Daí a “saudade do que não vivemos”. Daí a necessidade de resgatar um tempo em que a máquina não se interpunha entre homem e matéria prima. Daí a valorização, merecida, do trabalho manual, e a busca dos produtos artesanais.

Poderíamos discorrer sobre muitos outros motivos sobre essa busca pelo artesanal, mas aqui quero destacar uma questão que, a meu ver, é a mais importante: esse trabalho é, muitas vezes, a única fonte de renda de milhares de mulheres (e homens também, mas principalmente mulheres) donas de casa. Estas grandes mulheres têm no artesanato, a possibilidade de ter uma renda, conquistar certa independência, além de ser um “tratamento natural” para sua saúde física e psíquica.

Com tudo isso, o produto artesanal se defende. Uma peça útil, decorativa, que resgata algo de bom, de simples, guardada na memória da humanidade. Além de ser um feito, uma AÇÃO SOCIAL, que traz realização, saúde e dá asas e oportunidades a homens e mulheres, que têm como ferramenta, suas próprias mãos.

 

Adriana Silva Santiago, jornalista, bacharel em História,

presidente da Associação dos Artesãos

e Artistas Plásticos de Três Pontas, ARPLAST.

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