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  • Ayrton Senna do Brasil – Professor Chico

    Ayrton Senna do Brasil – Professor Chico

    Conheci o herói brasileiro das pistas no ano de 1993 – apenas um ano antes de sua morte. Certamente, pela minha tenra idade à época dos seus três títulos mundiais, eu me interessasse muito mais pela Corrida Maluca de Hanna & Barbera do que por Fórmula 1. Devo a minha aproximação a esse gênio das pistas a um vizinho que tinha por aqueles idos dos anos noventa. Fazia pouco tempo que eu morava onde ainda resido e um rapaz e uma moça, recém casados, vieram morar nesta vizinhança também. Ele era fã-incondicional de Ayrton Senna e, de uma feita, numa manhã ensolarada de domingo, sua esposa, que já se tornara amiga de minha mãe, veio perguntar-lhe, em nome do marido, se minha mãe o deixaria assistir as corridas de Fórmula 1 em nossa televisão (preto e branco!), pois eles ainda não tinham uma. Sim! A vida era muito mais difícil 30 anos atrás! Minha mãe generosamente atendeu ao pedido da jovem moça e pouco depois o rapaz chegava à minha casa meio acanhado e eu, meio intrigado com a chegada do estranho que me atrapalharia a ver meus desenhos e o Chaves nas manhãs de domingo no SBT. Como era de costume (e aqueles eram bons costumes!), minha mãe me ordenou que “fizesse sala para a visita” e pediu licença ao rapaz enquanto voltava à cozinha para terminar o almoço.

    A corrida começou. Volta e meia o rapaz trocava algumas palavras comigo e eu, como não tinha alternativa, tentava entender as regras daquele esporte chato onde carros ficavam contornando sem parar um circuito cheio de curvas. Às vezes, um ou outro se colidiam, “passavam” uns pelos outros e o narrador se exaltava e gritava o nome de um ou outro piloto. Parecia que ninguém fazia ponto nesse esporte e, obviamente, não tinha “gol”. Era enfadonho!

    Não me lembro se Senna ganhou aquela primeira corrida que meu vizinho veio assistir em minha casa. Contudo, a cada duas semanas ele vinha assistir a corrida e eu, lhe fazia sala – ordens de minha mãe – e fui, aos poucos, tomando gosto pelas corridas e pela emoção do narrador ao comemorar as vitórias de Senna.

    Naquele ano de 1993, eu assisti tudo o que pude na TV sobre Fórmula 1 e Ayrton Senna. Nas “corridas de bicicleta” depois da escola com os amigos da rua, eu queria ser Senna, embora sempre perdesse, ao contrário do campeão das pistas mundo afora. Naquele ano de 1993, Senna não ganhava mais com a frequência de anos anteriores. Seu carro era muito inferior ao de seus adversários diretos, como o de seu arquirrival Alain Prost, que se tornaria tetracampeão mundial naquele mesmo ano. Todavia, em várias corridas, Senna fez mágica com um carro que deixava muito a desejar para um candidato ao título mundial. O ano de 1993, para Senna, foi o ano em que ele, diversas vezes, provou suas habilidades quase sobre-humanas ao conduzir um carro de Fórmula 1, como na célebre corrida de Donington Park, Inglaterra, quando ultrapassou quatro pilotos, sob chuva, ainda na primeira volta e ganhou de ponta a ponta com esse carro extremamente limitado para o porte de um piloto como ele que almejava o tetracampeonato mundial.

    Mas o que tornava Senna tão especial para nós brasileiros e cativava até garotos de 11 anos como eu à época?

    Senna entrou de vez para o cenário da Fórmula 1 quando ganhou sua primeira corrida no Estoril, Portugal, em 1985, no ano do fim do regime militar, mas o auge de sua carreira se deu em momentos talvez ainda mais conturbados para o país. Seu primeiro campeonato mundial de Fórmula 1 aconteceu no ano da Constituinte, em 1988, e ele emendou, a partir dali uma carreira curta e estelar, durante os anos tumultuados da hiperinflação, dos escândalos do governo Collor, seus planos econômicos desastrosos e seu impeachment. Some-se a isso os insucessos seguidos do nosso maior orgulho no esporte, a seleção canarinho. Dizem que naqueles tempos, ainda se vivia na pele o trauma da tragédia do Sarriá frente à Itália, em 1982. Então, de repente, nesse cenário desalentador e com poucas perspectivas de um futuro menos tétrico em todos os sentidos, surgiu um jovem rapaz paulistano que pilotava um carro de corrida de maneira magistral e levava o nome do Brasil altivamente aos quatro cantos do mundo, encantando plateias por onde passava. Senna devolvera-nos o orgulho de ser brasileiro. Representava-nos na arena esportiva e fora dela, defendendo, por exemplo, uma melhor qualidade de vida para todos os cidadãos brasileiros a partir da Educação. Ao contrário de muitos “atletas” da atualidade que só se preocupam em fazer caras e bocas em redes sociais, Senna tinha uma postura profissional ímpar e um desejo de vitória inigualável, o que o levou a incontáveis feitos, mesmo quando todas as circunstâncias lhe eram totalmente desfavoráveis e sempre, em todas essas situações, ressalte-se, fazia questão de enaltecer o fato de ser brasileiro, o que lhe rendeu a alcunha de Ayrton Senna do Brasil. Víamos, portanto, em Senna, um arquétipo do que gostaríamos de ser enquanto nação, pois ele vinha “de baixo”, de um país não levado à sério e relegado à condição de terceiro mundo no cenário internacional, teve muitas vezes mil e um obstáculos a impedir o seu progresso, mas se impunha frente a ingleses, franceses, americanos e – por puro mérito do seu profissionalismo e trabalho árduo – alcançava a vitória, ganhando o respeito e admiração até mesmo de seus mais ferrenhos adversários. Em suma, Senna era uma amálgama do inconsciente coletivo do Brasil.

    Nosso ás do asfalto foi vice-campeão do mundo ao final da temporada de 1993, vencendo sua última corrida em Adelaide, na Austrália, no dia 07 de novembro daquele ano. Um mês mais tarde, ele deixava a equipe McLaren, onde obteve a maioria de suas vitórias e os seus três títulos mundiais, e assinava contrato com a Williams, que tinha o melhor carro da época. O francês Alain Prost, então piloto da Williams e arquirrival de Senna, deixava a equipe por não querer trabalhar novamente lado a lado com seu desafeto. Quando vi a notícia na TV, exultei de alegria e lembro de dizer à minha mãe: “ano que vem (1994) ninguém ganha do Senna. Será tetra! O melhor piloto no melhor carro.” Infelizmente, o meu vaticínio não se cumpriria, como todos sabemos. Mas não quero terminar este artigo de forma fúnebre. Quero terminá-lo relembrando as façanhas do nosso herói das pistas e evocando a esperança que ele tinha de dias melhores para o nosso Brasil. Que tenhamos a força, a garra e a determinação de Senna, enquanto ele desfilava pelas pistas do mundo, para superarmos todos os problemas do presente e que voltemos às suas memórias, memórias de um eterno herói nacional, como fonte de inspiração.

    Senna, você faz muita falta!

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  • São as pequenas coisas que valem mais… – Professor Chico

    São as pequenas coisas que valem mais… – Professor Chico

    Desde a Segunda Guerra Mundial, a humanidade não enfrentava um inimigo comum. Até pouco tempo atrás, nações se confrontavam por qualquer motivo torpe ou fútil. De repente, nos vemos todos nas mesmas trincheiras diante de um adversário invisível, mas tão letal quanto as armas mais sofisticadas dos mais variados exércitos. O coronavírus chacoalhou a humanidade mais do que a queda das torres gêmeas em 2001, aquelas que representavam, até então, o centro do mundo.

    Tenho notado uma grande algazarra nas mídias sociais sobre a questão metafísica deste acontecimento que, sem dúvida, entrará para os anais da História. Talvez, não encontraremos as respostas para tantas perguntas, mas elas se fazem pertinentes, ainda mais neste período de isolamento que tanto enseja a reflexão. Como os grandes filósofos do passado, devemos nos preocupar mais com as indagações do que com possíveis respostas.

    Seria esta pandemia uma resposta da natureza ao Homo Sapiens, uma vez que os animais “irracionais” são imunes ao vírus? E como temos maltratado o nosso lar nos últimos anos… Quanta devastação vimos ao longo de 2019 na Austrália e até no nosso próprio quintal, a Amazônia, ainda que muitos governantes não façam muito caso do estrago que nós causamos aos pulmões do mundo, sobretudo nos últimos meses. Teria, então, este vírus, sido enviado de algum lugar além da nossa compreensão para nos confinar e nos levar a refletir sobre o mal que temos causado ao nosso próprio planeta?

    E se fosse o “vírus chinês” uma consequência da falta de empatia e amor ao próximo como dizem alguns? O sobrenatural, portanto, tê-lo-ia enviado para, paradoxalmente, nos reaproximar através deste isolamento social forçado. Esta hipótese é a que mais me apraz. Na última década, andamos muito perdidos nos meios online – algo que aparentemente teria a utilidade de nos aproximar – e nos esquecemos de quem estava ao nosso lado. Passamos tanto tempo olhando, inicialmente para a tela do computador, e depois para a tela do celular, que o contato pessoal, físico, se tornou quase que irrelevante. Pensávamos que o outro sempre estaria ali à nossa espera. Depois! Mais tarde! Este post, este meme, colecionar curtidas e compartilhamentos nos era infinitamente mais importante. De repente, nos vimos obrigados a nos afastar uns dos outros e nos lembramos do que, de fato, valia mais.

    Ou seria a Covid-19 um sinal dos tempos e o mundo estaria à beira do fim? Nutro profundo respeito e deferência pela fé alheia, mas espero que não seja o fim de tudo. Bem, talvez que seja mesmo o fim, mas o fim do mundo tal como o conhecemos – a parte que não presta – sim, esta eu gostaria que chegasse a bom termo. Não seria interessante, agora que relembramos do que de fato vale a pena, que tudo acabasse sem que tivéssemos uma chance de nos resgatar, de reescrever a nossa história mais próximos uns dos outros, com mais calor humano, mais cafés da tarde com bolo de fubá e pão de queijo, mais conversas na varanda ao pôr do sol e mais música em volta de uma fogueira numa noite fria de inverno ou passeios numa praia deserta sentindo a brisa do mar. Afinal, são as pequenas coisas que valem mais – já dizia Renato Russo. E o coronavírus nos tem relembrado disso. Há males que inegavelmente vêm para o nosso bem.

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  • O casal da Praça da Matriz – Professor Chico

    O casal da Praça da Matriz – Professor Chico

    Certa vez, após um longo dia de trabalho, caminhava eu tranquilamente pela Praça da Matriz para relaxar. Era um fim de tarde de clima ameno. Os pássaros, naquele alvoroço vespertino que lhes é peculiar, buscavam se aninhar nas árvores. As pessoas iam e vinham ora a passos apressados, ora a passos lentos como os meus naquela tarde. “Mil e um carros” contornavam a praça tentando ir para casa ou perdidos na aventura de tentar estacionar.

    Foi quando olhei para o lado e notei um casal sentado num banco. A cena me prendeu totalmente a atenção por alguns segundos. Era inacreditável o que eu via naquele momento! Algo que para os demais transeuntes passava completamente despercebido, não fugiu ao crivo da minha observação. Aquele casal era um típico casal de nossa era. Era um casal ultramoderno e o que fazia sentado ali naquele banco ostentando as suas alianças prateadas me tomou de estupefação. Não, eles não cometiam nenhum atentado violento ao pudor como era de costume, às vezes, duas ou três décadas atrás. Ao contrário, eles cometiam um atentado ao que as pessoas que ainda não perderam a razão no meio da loucura do atual século entendem por “casal”.

    Usei de um pretexto qualquer e me aproximei o máximo que pude do tal casal, sem lhes chamar a atenção, para confirmar as minhas suspeitas, e bingo! Nada de beijos ou abraços, nada de mãos dadas ou conversas ao pé do ouvido naquele fim de tarde tão aconchegante. As redes sociais lhes haviam cruzado o caminho e lhes levado consigo. Havia stories mais interessantes do outro lado da tela de seus celulares enquanto ambos rolavam a tela de seus aparelhos em frenesi. Era como se o outro sentado ao lado simplesmente não existisse…

    Pergunto-me o que leva um casal a ignorar por completo a pessoa que está ao seu lado e usa no dedo uma aliança com o nome do/a parceiro/a inscrito/a em favor de outra que é feita de bits de memória e viaja por sinais de rádio ou fibra ótica… É uma indagação cuja resposta, mesmo anos depois de presenciar aquela cena, não tenho.

    E o que leva alguém a estar com outrem que prefere o virtual ao real? Por que as pessoas, hoje em dia, se sentem tão mais à vontade diante de uma tela e fogem do olho no olho, de um sorriso bem à sua frente, do tato, do olfato e tudo aquilo que envolve estar com um ser humano diante de si? Do quê estamos fugindo? De nós mesmos? De nossas misérias existenciais? Quando nos tornamos tão covardes assim? Buscamos nos encontrar no feed de notícias do Facebook ou nos perdemos por lá? Do que temos medo quando decidimos nos refugiar em meio a 800 “amigos” dos quais apenas 5 ou 6 de fato encontramos lá fora, 100 comentários e 2000 likes?

    E se de repente, uma catástrofe de proporções mundiais nos deixasse sem Internet por longos três meses, por exemplo? Presenciaríamos suicídios em massa ou simplesmente voltaríamos à nossa essência – isto é – viver efetivamente em grupos de carne e osso, não de bytes.

    Hoje, no dia de São Valentim, quando em países do hemisfério norte se comemoram o amor e a amizade, busco mais uma vez inspiração em Renato Russo e em uma de suas dezenas de canções célebres.

    “E hoje em dia, como é que se diz ‘eu te amo’?”
    Creio que deva ser por meme…

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  • A CARTA – Professor Chico 

    A CARTA – Professor Chico 

    Sou fã de Legião Urbana. Renato Russo era um poeta em roupagem de cantor. Pode soar certo saudosismo de minha parte, mas é fato que não se faz mais música como antigamente. Entretanto, isso é tema para outro dia. Ainda assim, o que me traz hoje aqui é uma música de Renato Russo; uma das últimas levadas ao público num álbum póstumo de nome Presente, lançado em 2003. Nesse álbum, encontra-se um dueto de Renato Russo e Erasmo Carlos, “A Carta”. Ouvindo “A Carta”, comecei a divagar sobre esse ser totalmente estranho à geração Z, chamada, às vezes, sofisticadamente de “Millennials”. E a alcunha é mesmo sofisticada, pois tudo neles o é. Dizem que já nasceram com um Iphone no berço o que eu não duvido de que de fato o tenham. Não estou aqui, no entanto, para tecer diatribes à tecnologia moderna, uma vez que ela possivelmente nos traz muito mais conforto e bem-estar do que motivos para lamentos. Todavia, quem é ao menos um “oitentista” (nascidos na década de 80), como eu, sabe de tudo que o avanço tecnológico, “nunca antes visto na história deste mundo”, levou de roldão. Uma longa introdução que me leva de volta à Carta, à canção “A Carta” e às divagações e lembranças que ela me ensejou:

    O ano era 2001 e eu estava no final da minha adolescência. Uma das minhas paixões à época era animês – desenhos animados japoneses. Meus amigos e eu nos reuníamos todas as tardes e contávamos as horas e os minutos para um novo episódio de Dragon Ball Z na Band. Comecei então, em meio à febre causada pela saga de Akira Toriyama, a colecionar as revistas em quadrinhos do desenho (os famosos mangás japoneses nos quais se lê de trás para frente!) e nelas havia uma seção de cartas à qual leitores escreviam falando de sua paixão por Dragon Ball Z e deixando seu contato para correspondência entre si . Foi aí que encontrei o contato de Hiroko. Hiroko era uma jovem paulista da cidade de Suzano e tão fã de animês e mangás quanto eu. De súbito, tomei de uma caneta e uma folha de papel, lhe escrevi uma carta e lhe enviei junto, como um mimo, um desenho que rabisquei do meu personagem favorito de Dragon Ball Z. Perguntei ao atendente dos Correios quanto tempo levaria para que a carta chegasse ao seu destino e ele me disse que seriam cerca de sete dias. Logo calculei que uma possível resposta de Hiroko levaria por volta de duas semanas. Entre a empolgação por um e outro episódio novo de Dragon Ball na TV, acabei não percebendo os dias se passarem e fui tomado de surpresa quando me chamaram ao portão e me entregaram uma carta. Hiroko havia respondido. Não pude conter a alegria e a satisfação por estabelecer contato com uma legítima fã nipônica do meu desenho predileto. O envelope por si só já era um prêmio à parte. Hiroko havia cuidadosamente traçado os rostos dos personagens mais famosos da animação japonesa por ele todo e, inclusive, escrito alguma coisa em japonês que até hoje não consegui decifrar. Quando abri o envelope da carta e fisguei seu conteúdo, fui levado do êxtase ao embaraço total. A garota paulista me havia enviado um desenho perfeito do meu personagem favorito, aquele mesmo, do qual eu lhe havia mandado alguns rabiscos na minha carta. Se comparado ao que eu, agora, segurava constrangido e admirava em estado de total perplexidade, o meu não passava de um apanhado de linhas disformes feitas por uma criancinha de colo que mal sabe segurar um lápis. Mas Hiroko não havia feito isso por mera ostentação. Ela era uma exímia artista. Já havia muitos anos que desenhava e escrevia quadrinhos japoneses por hobby. Imediatamente após ler sua carta por duas ou três vezes lhe redigi uma resposta e nos correspondemos, a partir daí, por quase três anos.

    Cada espera entre uma carta e outra era repleta de ansiedade. Checar a caixa do correio quase todos os dias, redigir uma nova carta e abrir aquele envelope vindo de longe na expectativa do que ele continha e do que aquelas linhas traziam era uma aventura saborosa e romântica (no sentido literário do termo) não só para mim, mas também para muitas pessoas que utilizavam deste meio de comunicação, mas que hoje se perdeu na imensidão do tempo.

    Quanto a mim, nunca encontrei Hiroko. Não era fácil viajar até São Paulo sendo ainda um simples estudante de Ensino Médio sem trabalho. Falamo-nos uma única vez por telefone – fixo! – diga-se de passagem; celulares mal existiam quase duas décadas atrás e Instagram muito menos, então, dela, só tenho uma foto que me enviou em uma de suas cartas e eu, como nunca fui muito fotogênico, apenas lhe enviei um três por quatro meu, de uma feita, para retribuir sua gentileza.

    A última carta de Hiroko chegou em novembro de 2003. Nela, ela dizia, numa mistura de pesar e esperança, que voltaria ao Japão para trabalhar e que me enviaria seu novo contato assim que possível. Hiroko era uma sansei – neta de japoneses – e já havia morado no Japão por cinco anos. Isso explicava o fato de, às vezes, me escrever coisas em japonês que eu tinha de perguntar o que significavam e esperar ao menos duas semanas para descobrir do que se tratavam. Nunca mais voltamos a nos comunicar. Nem mesmo o Google me reencontrou a amiga japonesa, desenhista de mangá e fã incontestável de Dragon Ball quando, tempos atrás, procurei por ela. Hiroko, assim como as cartas, se perdeu no tempo…

    É uma pena muito grande que a atual geração, tão moderna e de comunicação tão instantânea, mal saiba o que se sentia ao se comunicar com alguém que nos fosse querido/a por este meio chamado carta. Talvez houvesse alguma espécie de virtude na demora e na espera, o que a velocidade da comunicação dos tempos atuais impossibilita porque, sem dúvida, as relações do passado, mesmo aquelas à distância, eram muito mais sólidas e verdadeiras; por vezes, inesquecíveis, mesmo quando repentinamente tolhidas pelas circunstâncias e pela implacável ação do tempo…

    ありがとうございます。Arigatô gozaimasu, Hiroko!

    Professor Chico

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