Certa vez, após um longo dia de trabalho, caminhava eu tranquilamente pela Praça da Matriz para relaxar. Era um fim de tarde de clima ameno. Os pássaros, naquele alvoroço vespertino que lhes é peculiar, buscavam se aninhar nas árvores. As pessoas iam e vinham ora a passos apressados, ora a passos lentos como os meus naquela tarde. “Mil e um carros” contornavam a praça tentando ir para casa ou perdidos na aventura de tentar estacionar.

Foi quando olhei para o lado e notei um casal sentado num banco. A cena me prendeu totalmente a atenção por alguns segundos. Era inacreditável o que eu via naquele momento! Algo que para os demais transeuntes passava completamente despercebido, não fugiu ao crivo da minha observação. Aquele casal era um típico casal de nossa era. Era um casal ultramoderno e o que fazia sentado ali naquele banco ostentando as suas alianças prateadas me tomou de estupefação. Não, eles não cometiam nenhum atentado violento ao pudor como era de costume, às vezes, duas ou três décadas atrás. Ao contrário, eles cometiam um atentado ao que as pessoas que ainda não perderam a razão no meio da loucura do atual século entendem por “casal”.

Usei de um pretexto qualquer e me aproximei o máximo que pude do tal casal, sem lhes chamar a atenção, para confirmar as minhas suspeitas, e bingo! Nada de beijos ou abraços, nada de mãos dadas ou conversas ao pé do ouvido naquele fim de tarde tão aconchegante. As redes sociais lhes haviam cruzado o caminho e lhes levado consigo. Havia stories mais interessantes do outro lado da tela de seus celulares enquanto ambos rolavam a tela de seus aparelhos em frenesi. Era como se o outro sentado ao lado simplesmente não existisse…

Pergunto-me o que leva um casal a ignorar por completo a pessoa que está ao seu lado e usa no dedo uma aliança com o nome do/a parceiro/a inscrito/a em favor de outra que é feita de bits de memória e viaja por sinais de rádio ou fibra ótica… É uma indagação cuja resposta, mesmo anos depois de presenciar aquela cena, não tenho.

E o que leva alguém a estar com outrem que prefere o virtual ao real? Por que as pessoas, hoje em dia, se sentem tão mais à vontade diante de uma tela e fogem do olho no olho, de um sorriso bem à sua frente, do tato, do olfato e tudo aquilo que envolve estar com um ser humano diante de si? Do quê estamos fugindo? De nós mesmos? De nossas misérias existenciais? Quando nos tornamos tão covardes assim? Buscamos nos encontrar no feed de notícias do Facebook ou nos perdemos por lá? Do que temos medo quando decidimos nos refugiar em meio a 800 “amigos” dos quais apenas 5 ou 6 de fato encontramos lá fora, 100 comentários e 2000 likes?

E se de repente, uma catástrofe de proporções mundiais nos deixasse sem Internet por longos três meses, por exemplo? Presenciaríamos suicídios em massa ou simplesmente voltaríamos à nossa essência – isto é – viver efetivamente em grupos de carne e osso, não de bytes.

Hoje, no dia de São Valentim, quando em países do hemisfério norte se comemoram o amor e a amizade, busco mais uma vez inspiração em Renato Russo e em uma de suas dezenas de canções célebres.

“E hoje em dia, como é que se diz ‘eu te amo’?”
Creio que deva ser por meme…

Professor Chico

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