Se a fé move montanhas, ela também pode abrir novos caminhos. É no Sul de Minas Gerais, em cidades sentido Aparecida, o ponto de encontro de católicos do interior paulista, que fiéis e romeiros têm explorado novas rotas. A força dos nomes dos beatos Padre Victor e Nhá Chica é o que traz milhares de pessoas de várias partes do país em busca de milagres, agradecimentos por graças e experiências de fé.
O turismo religioso encontrou no Sul de Minas novos pontos de parada. Antes considerada um meio de chegada à terra de Nossa Senhora Aparecida pelo Caminho da Fé, a região ganhou seus próprios atrativos. No foco de novas rotas estão cidades como Baependi e Três Pontas.
Caminhos de Padre Victor
Em Três Pontas, terra onde Padre Victor viveu e deixou suas obras, os números chamam atenção. Na festa do beato de 2019, comemorada em 23 de setembro, o setor de turismo da cidade recebeu da Polícia Militar uma estimativa de fluxo de 80 mil pessoas em três dias.
“Quem não conhece se surpreende. De pensar que Três Pontas tem 57 mil habitantes. A fé move muito mesmo. A gente tem relatos das pessoas eu vêm a pé pra cá, a cavalo, pessoas que fazem sacrifício, que juntam um dinheirinho, e tratam Padre Victor como se fosse santo, não tratam como beato”.
O relato é da turismóloga Keyre Kelly Ferreira Mariano. Há anos, ela acompanha as transformações e o aumento no volume de turistas, principalmente após a beatificação reconhecida pelo Vaticano, em 2015.
A surpresa veio ao receber dados de uma pesquisa feita em 2019, ao identificar fiéis vindo não só de destinos comuns como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mas de lugares mais distantes, como o Piauí.
“Este grupo vem pelo segundo ou terceiro ano, todo mês de agosto vem um ônibus. Eles visitam o memorial, participam de missa, depois vão pra Canção Nova ou Aparecida, mas passam aqui. Piauí é diferente”.
É de olho nesta movimentação que o setor de turismo tem buscado novos investimentos. O mais recente foi uma parceria com uma agência especializada em turismo religioso do interior de São Paulo.
Três Pontas entrou no mapa por um roteiro que sai de Atibaia, passa por Baependi, e chega até a cidade de Padre Victor, onde os turistas dormem. No dia seguinte, seguem para Aparecida.
“Este roteiro já é comercializado. Inclusive, a primeira atitude que a agência teve foi isso – imprimiu mais de dois mil catálogos e está enviando para dioceses do Brasil todo”, detalha Keyre.
Agora, está em etapa de desenvolvimento um aplicativo em parceria com a Associação Comercial para reunir informações sobre hospedagem, restaurantes e pontos de visitação.
“A primeira coisa é facilitar para o turista. Ele chegou na cidade, vai ter um aplicativo pra poder baixar, onde vai ter todas as informações. Desde hotel pra se hospedar, bons restaurantes, agenda cultural. Então é para interligar tudo, para que o turista seja ‘carregado no colo’”, explica o secretário de cultura, lazer e turismo, Alex Tiso Chaves.
Fé, música e café
Três Pontas há anos recebe frutos referentes a sua importante tríade – fé, música e café. A indústria cafeeira, base da economia da cidade, gera empregos e atrai visitantes de um dos municípios mais conhecidos pela produção de grãos no Sul de Minas.
Na música, os nomes ilustres de Milton Nascimento e Wagner Tiso, nascidos em Três Pontas, reforçam a tradição musical e hoje são lembrados por visitantes na Casa da Cultura e no Conservatório Municipal, que hoje atende 600 alunos de forma gratuita.
“A preocupação da secretaria tem sido de criar um vínculo com a fé, a musica e o café. A música a gente já tem a representatividade através do Milton e do Wagner Tiso, pessoas que já levam o nome da cidade de certa maneira. O café, nem precisa dizer da importância”, detalha Alex.
O secretário afirma que o turismo religioso estava esquecido na cidade. E que, além de Padre Victor, o município tem a chamada “Nossa Mãe”, outra pessoa em processo de beatificação no Vaticano.
“Com essas duas referências, Três Pontas passa a ser um polo de turismo religioso muito importante dentro desse contexto do Sul de Minas. Isso pode sim virar uma fonte de renda para o turismo na cidade. E o principal foco disso tudo é que a gente tenha essa vivência religiosa todo o ano, que a gente possa ter outras atrações para os turistas, agregando o lado religioso com a música e o café”, reforça.
Nhá Chica
Na própria igreja Nossa Senhora d’Ajuda, local onde ficam os restos mortais de Padre Victor, a imagem de Nhá Chica divide espaço na entrada principal com o beato, assim como na venda de imagens do memorial.
Mais de 130 quilômetros separam as duas cidades. No entanto, tornou-se comum para quem vem de outros estados fazer uma visita aos dois beatos do Sul de Minas.
Visitas que não começaram há pouco tempo. Parte da comissão histórica do processo de beatificação de Nhá Chica, a pesquisadora Maria do Carmo Nicoliello Pinho conta que a chamada Mãe dos Pobres atraía pessoas a Baependi ainda em vida.
“Sempre atraiu muita gente, desde o século XIX. Ela viva ainda já recebia pessoas de todas as classes sociais. Naquele tempo o nome dela já era conhecido. Para se ter uma ideia, desde 1911 já tem registro de visitas aqui pedindo graça. Ela morreu em 1895”, detalha.
Após a beatificação, tantos anos depois da morte da figura religiosa, o que atrai as pessoas à cidade de pouco mais de 19 mil habitante?
“É uma tradição que vem de família, vai passando de avós para filhos e netos. Eles sempre têm uma história de uma avó que era devota. Não é só durante a festa dela em junho. É todo dia, todo fim de semana com pessoas por aqui”.
Hoje, o turista que chega a Baependi segue até o Centro da cidade, onde fica o Santuário e a casa onde a beata morou. No imóvel simples, é possível ver a cama onde dormia, o fogão à lenha e fotos de fiéis com graças alcançadas.
Um dos itens que mais chama atenção dos visitantes é a imagem original da Imaculada Conceição, que Nhá Chica trouxe aos oito anos de idade de São João Del Rei, onde nasceu. No memorial, ao lado da casa, os fiéis têm registros em jornais, objetos e fotos que contam um pouco da história.
Anexo a toda a estrutura, o espaço da Associação Nhá Chica abriga uma escola, que atende crianças e jovens, além de menores de idade desabrigados – alguns em fila de adoção. Ali, é possível ver a continuidades das obras da beata.
Na associação, foi encontrado um potencial que deve entrar em ação em breve – o chamado “volunturismo”. Como o nome diz, a ideia é atrair turistas que estejam dispostos a fazer um trabalho voluntário com as crianças.
Rota Nhá Chica
São turistas de Minas Gerais, São Paulo, até do Sul do país. Para fortalecer os caminhos que levam à beata, uma parceria com o Sebrae inaugurou em agosto a Rota Nhá Chica.
São 220 quilômetros de Tiradentes (MG) a São Lourenço (MG), passando por Santa Cruz de Minas, São João del-Rei, Carrancas, Cruzília, Baependi, Caxambu e Soledade de Minas.
A ideia foi entregar trechos com a Estrada Real e fortalecer o turismo religioso na região, área que segundo a guia turística Ana Cristina Ribeiro deve ter uma receita de R$ 20 bilhões em 2019. A estimativa é do Ministério do Turismo.
Fonte G1 Sul de Minas
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Roger Campos
Jornalista
MTB 09816
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