Começo invocando o nosso Mestre Gabriel Garcia Márquez: “Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”

O que é ser Jornalista? Quais os desafios, as flores e espinhos desta nobre profissão?

Hoje, 07 de abril é o dia em que o Brasil reverencia seus jornalistas, o notável profissional da arte de informar. tarefa árdua e cada vez menos prestigiada por boa parte da sociedade. Mas, inegavelmente, o Jornalista sempre ocupará seu lugar ao Sol, sempre estará ali, debaixo de chuva, de forte calor, nas favelas, nas guerras, nos becos, nas cidades, no mar e no ar, nas celebrações e nas epidemias, cobrindo tudo, noticiando, reportando, escrevendo nossa história.

Poucos conhecem de fato a arte de informar e muitos se aventuram nela. Muitos se acham jornalistas, se auto-dominam jornalistas sem terem a menor noção, conhecimento e, principalmente, amor por esta arte. Não, quem quiser ser Jornalista achando que ficará rico, está na profissão errada! O Jornalismo para quem o ama é viciante, entorpece, enlouquece, se torna algo que queima e que é pra sempre, como uma tatuagem.

Poucos sabem, mas o Jornalista, pelo menos 99% deles, enfrenta uma grande dificuldade de comprovação de renda. Vivem de propagandas, de comissões e de ganhos considerados informais. Sem falar nas permutas, tão comuns em seu universo quanto arroz e feijão num marmitex. Muitos vivem uma grande gangorra financeira. Um mês ganham muito noutro ganham bem menos. Muito penosa a missão de prosperar, de conseguir ter uma casa, um carro, uma boa conta bancária. Mas não desanimamos. O que nos move é o ideal.

Poucos enxergam essa realidade, mas o Jornalista não tem folga, não tem tempo para o lazer, para viagens. E quando, raramente, consegue uma escapada, se mantém como um médico de plantão, como um sentinela que não pode dormir, sequer cochilar, afinal de contas, um fato, uma notícia não tem hora e nem lugar pra acontecer. Nos anos 2000, conversando com a brilhante jornalista Neide Duarte (Globo, Cultura, SBT), perguntei o que sintetizava um grande jornalista. Ela, imediatamente, olhou ao meu redor e perguntou “cadê seu equipamento jornalístico (máquina fotográfica, gravador, papel, caneta, etc.)?”. Respondi dizendo que a encontrei por acaso, que não havia planejado a entrevista. Foi então que recebi o primeiro grande ensinamento do Jornalismo:

_ O grande jornalista é jornalista 24 horas por dia. Não se esqueça disso!

Trabalhamos muitas vezes com horário para começar mas quase nunca sabemos que horas iremos parar, descansar. As vezes a jornada é dobrada, vira a noite, vara a madrugada. Tudo pelo amor indelével ao Jornalismo sério e ético. Afinal, a notícia não pode esperar, não pode “envelhecer”. Sair na frente, ter um furo de reportagem é a cereja no bolo de um Jornalista.

Temos lugar na tevê, no rádio, na mídia impressa e cada vez mais na internet. Há muito campo para se trabalhar, mas também há uma concorrência desenfreada e desleal. Uma verdadeira tourada espanhola, principalmente no interior do Brasil. Fazer jornalismo em cidades pequenas é um desafio diário, é como tirar leite de pedra. É usar da criatividade, do feeling e da sagacidade frequentemente. Infelizmente muitos amadores caem de para-quedas no Jornalismo achando ser ela uma Serra Pelada. Muitos ditos profissionais desvalorizam, denigrem e prostituem a sacra santa missão de informar.

Feito um artista circense, andamos diariamente numa corda bamba. Estamos no limiar entre a execração pública e os aplausos.Como um médico que salva 99 vidas e o centésimo paciente morre nas mãos dele o torna, erroneamente, um mal médico, nós jornalistas escrevemos 99 matérias perfeitas. Mas se erramos uma palavra, se falhamos por alguma razão na número 100, nos tornamos imediatamente péssimos profissionais. Acreditem, somos criticados até por quem mal sabe escrever o próprio nome. Afinal, no Brasil muitos têm três profissões: a dele própria, a de técnico de futebol e de Jornalista.

Como se não bastasse, ainda temos, nos últimos anos, que conviver com as fake news e a desconfiança latente que salta aos olhos da opinião pública. Estamos na alça de mira, num pelotão de fuzilamento. Estamos sendo observados, julgados sumariamente. Mas é preciso que, mais uma vez, se separe o joio do trigo. Por conta das fake news temos, nós Jornalistas, que não apenas noticiar, mas provar que estamos relatando a verdade dos fatos. Uma inversão de papéis já que no Brasil, o correto seria “àquele que acusa o ônus da prova”.

Mas, pensando bem, as fake news acabaram tornando-se aliadas dos bons Jornalistas. É isso mesmo! Elas também se tornaram uma tábua de salvação aos profissionais que valorizam a nobre arte. Que apuram com rigor, que investigam com propriedade, que escrevem ou contam com discernimento e isenção. As fake news atingirão fundamentalmente aqueles que deturpam a realidade, que distorcem e inventam por interesses pessoais, ao bel prazer. Os incompetentes passarão. Quem é bom se estabelecerá. “A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”, ensinou Garcia Márquez, uma espécie de garantia..

Hoje, no Dia do Jornalista, quero largar a caneta por um instante. Estender a mão (de luva e máscara em tempos de pandemia) e cumprimentar aqueles que deixaram sua contribuição valorosa ao Jornalismo através de suas máquinas de escrever ultrapassadas. Saúdo também os novos Jornalistas, que foram forjados na modernidade tecnológica da arte de informar. Que, juntos, possamos sempre carregar a bandeira do Jornalismo ético e profissional. Que o bradado Quarto Poder se justifique e floresça, não apenas na primavera, mas nas quatro estações do ano.

Sócrates nos lembra: “Só sei que nada sei!”. Que busquemos sempre mais, sempre o conhecimento. Nunca é tarde para aprender e eu sou um exemplo disso, afinal após 28 anos de profissão me sento, com orgulho e entusiasmo, no banco de uma universidade com professores mais novos que eu e colegas de sala com idades das minhas filhas. Vale muito a pena! Jornada tripla! Vida corrida e exaustiva. mas vale a pena! No final do arco-íris poderemos encontrar um pote de ouro, a gratificante sensação do dever cumprido.

Termino parafraseando Claudio Abramo: “O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.”

Minha homenagem aos meus professores Jornalistas, aos colegas de faculdade (futuros grandes Jornalistas), a todos os Jornalistas do Brasil e do mundo e, em especial, aos meus grandes inspiradores Caco Barcelos, Carlos Dornelles, Sílio Boccanera e Roberto Cabrini. Parabéns a todos nós!

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Roger Campos

Jornalista

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