Minas Gerais é reconhecida como a terra da cachaça, e também já vem sendo chamada de “Bélgica Brasileira”, devido ao grande número de cervejarias artesanais. Agora, é a vez do vinho projetar o nome do estado internacionalmente. É o que mostra o resultado do prêmio Decanter World Wine Awards 2017, realizado em Londres, Inglaterra. Dos 27 vinhos brasileiros participantes da premiação, cinco são elaborados com a tecnologia da dupla poda, desenvolvida pelo Núcleo Tecnológico Uva e Vinho da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Caldas, no sul do estado. E um vinho de Três Pontas foi eleito o melhor do mundo!
O vinho Maria Maria Bel Sauvignon Blanc 2015, vencedor da categoria bronze, é de Três Pontas (MG). A uva é plantada na fazenda Capetinga, do produtor Eduardo Junqueira, e processada na vinícola experimental da Epamig em Caldas. Já os vinhos da vinícola Guaspari – Vista do Chá, Vista da Serra, Vale da Pedra, Vista do Bosque – são produzidos em Espírito Santo do Pinhal (SP), em vinícola própria.
Eduardo Junqueira, produtor do Maria Maria, que carrega esse nome por causa da célebre música do cantor Milton Nascimento, conta que a primeira safra foi produzida em 2013 e que enviou a de 2015 para participar, pela primeira vez, de um concurso. O rótulo sagrou-se vencedor. “No fim do mês de junho, vou viajar para Londres e receber a premiação. É muito gratificante. Foi uma decisão muito acertada ter selado essa parceria com a Epamig, que veio desde a compra de mudas, e dura até hoje, com assessorias técnicas remotas do órgão aqui na minha propriedade”, comenta o produtor.
Fabrizia Zucherato, gerente da vinícola Guaspari, credita o nascimento da iniciativa à tecnologia da Epamig. “Nosso impulso foi o uso das podas invertidas, para que pudéssemos colher uvas no meio do ano, pois, só assim, poderíamos produzir vinhos finos numa altitude como essa, em um país tropical”, explica a gerente sobre as características da uva destinada à vinicultura. “São 50 hectares de parreiras, todas plantadas com a tecnologia da Epamig. Além do prêmio deste ano, vencemos também o Decanter 2016”, complementa Fabrizia.
Tecnologia mineira
O sucesso no prêmio londrino deste ano é reflexo de um trabalho bem sucedido da Epamig, que aperfeiçoou a qualidade dos vinhos finos produzidos no Brasil em propriedades do sul de Minas, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Só nas montanhas mineiras, cerca de 2,5 milhões de litros de vinho são elaborados, incluindo tintos, brancos e espumantes. Trata-se da técnica da dupla poda, que implica na inversão do ciclo produtivo da videira – a planta passa a produzir os frutos o Inverno do Hemisfério Sul.
O método consiste na realização de duas podas: uma de formação dos ramos no mês de agosto; e outra de produção no mês de janeiro. A informação é do pesquisador Murillo Albuquerque Regina, da Epamig em Caldas (MG), responsável por desenvolver a iniciativa. A combinação do tempo seco, dos dias ensolarados e das noites frias ocasionam na colheita de uma uva sã, de maturação plena, que apresenta mais aroma e maior concentração de cor, contribuindo para o incremento da qualidade do vinho. A tecnologia mineira possibilitou a produção de vinhos finos na serra da Mantiqueira, onde, tradicionalmente, eram vistas apenas plantações de café.
Decanter Award
O prêmio Decanter World Wine Award 2017 foi organizado pela revista inglesa Decanter – uma das mais tradicionais e respeitadas publicações sobre vinhos no mundo. Contou com avaliação de mais de 17 mil vinhos, julgados por 219 experts, sendo 65 mestres na área e 20 sommeliers.
(Da Agência Minas)
Roger Campos
Jornalista
(MTB 09816)