Vivemos hoje a geração da hipersensibilidade. Estamos mais sensíveis e irritadiços. Mas não sensíveis no sentido pleno da palavra, que aflora nosso sentimento de humanidade e de amor pelo próximo. Sensíveis no que se refere a se incomodar facilmente com qualquer coisa. Episódios banais se transformam em terrorismo. Tudo incomoda, tudo gera atrito, discussão e morte.

Essa geração tecnológica impressiona pela facilidade em lidar com coisas que há 20 anos atrás nem se cogitava existir. Muitas crianças não brincam mais nas ruas e ficam dentro de casa, o dia todo, mergulhadas nos videogames ou na rede mundial de computadores. O smartphone não apenas afastou as famílias, o convívio, a conversa, o olho no olho, como tirou delas a vontade, a curiosidade das brincadeiras do mundo real. Hoje essas crianças e adolescentes têm o universo na palma da mão, mas não conhecem a rua debaixo de sua casa. Não sabem o que é conviver com “amigos de carne e osso” no dia-a-dia, como era antes.

Tamanha inovação digital vem modificando a criação dos nossos filhos, tornando-os menos resistentes às doenças, mais tímidos e fechados. Tudo diante de uma nova imposição universal que rotula praticamente tudo que se faz ou se fala como preconceito, pejorativo, vil, errado. O politicamente incorreto buzina nos nossos ouvidos toda hora. “Isso não pode, isso é feio, isso não deve, isso dá processo, etc…” Não percebem que estamos fabricando robôs, pessoas quase que teleguiadas de fato, manipuladas por gritos e clamores que, nem sempre, têm a intenção de melhorar a sociedade como se pinta aos quatro ventos.

Vou dar um exemplo de onde quero e vou chegar: A foto destaque desta crônica mostra uma festa dos anos 80 onde um menino quis uma festa de aniversário do Rambo, personagem que todos os meninos amavam na época e que eu, particularmente, sou apaixonado até hoje. Na decoração os bonequinhos do Stallone com sua arma característica. O próprio garotinho, dono da festinha, empunhava uma arma de brinquedo de cano longo. Pois bem. Encontrei essa imagem numa postagem da própria criança que hoje tem 40 anos. A legenda diz “Eu quando moleque, tive uma metralhadora dessa série de fabricação da “Estrela, fazia barulho de tiro de metralhadora e soltava faísca em cima do cano na parte frontal. Hoje com mais de 40 anos, nunca cometi um delito que fosse e jamais fui preso, pois tive uma infância plena e soube aproveitar muito bem, a educação que recebi dos meus pais”.

Uma das brincadeiras preferidas nos anos 80 e 90 era “Polícia e Ladrão”. Adorávamos brincar nos fazendo de mocinhos e bandidos. E dava um orgulho ser policial, ser xerife, prender os vilões. Era mágico, lúdico, gastava nossas energias e nos deixava felizes. E não conheço nenhum relato de algum marginal adulto que tenha entrado no mundo do crime em decorrência dessa brincadeira “inocente” de infância. Se fosse definir caráter, muitos que adoravam brincar de coisas de terror teriam virado monstros na fase adulta.

Agora a moda são os jogos de videogame realísticos e sangrentos, com explosões, bombas, mortes, pessoas decapitadas, cenas realmente fortes, porém comuns aos olhos de muitos. E o curioso é que isso pode, os pais permitem numa boa e ninguém fala nada. Apontar o dedinho imitando revólver, meu Deus, é o fim do mundo. Que inversão de valores, de realidade…

Dançávamos nos saudosos “bailinhos” em nossas próprias casas (com direito a dança da vassoura, repassando-a de mão em mão e trocando o par) e bem “coladinho”. Lembram da lambada? Pois é, ninguém virou estuprador ou maníaco sexual por ter tido esse contato próximo com outras pessoas.

Hoje, para se fazer um filho “feliz”, muitas vezes, é preciso comprar um celular de mais de 1.000 reais e passar o ano inteiro pagando as prestações. Antes, nos contentávamos com latinhas, pedaços de madeira, giz, papel e coisas simples para formatar nossas brincadeiras. Sem esquecer do barbante que não fazia apenas o pião (piorra) girar, mas nossa cabeça de emoção e fascínio.

E como tudo isso tinha graça!

Brincadeira de Polícia e Ladrão, uma das preferidas da geração 80, 90 e 2000.

O que realmente define caráter é EDUCAÇÃO. E não estou transmitindo responsabilidade aos professores (verdadeiros heróis do Brasil), profissionais que respeito de forma inconteste. Educação é dever de pai e mãe. Caráter vem do berço, de como os genitores ou seus criadores conduziram a vida dessa criança. Falo de mimos, de vontades, de acesso, de impor limites, saber dizer não, mostrar o certo e o errado. Essa base sólida, somada sim aos aprendizados numa boa escola (independente de ser pública ou particular) faz toda diferença.

Como aqueles três macaquinhos, estamos cegos, surdos e mudos. Não conseguimos ver o que está latente na nossa frente e forjamos culpados, mascaramos a realidade. Nossos ouvidos só escutam o que nos convém e sem esquecer que a transmissão da mesma mensagem chega a cada um de nós de forma diferente, com entendimento e decodificação exclusivas e distorcidas. Estamos praticamente emudecidos. Não queremos falar, preferimos ficar em cima do muro. E quando bradamos somos tolidos, acusados, massacrados, rotulados disso e daquilo, principalmente nas redes, cada vez mais, insociais.

Não, não vejo parâmetro, estudos e estatísticas que associem um criminoso de hoje a uma brincadeira lúdica ou prática infantil inocente. Sim! De fato o ontem foi muito mais feliz que o hoje. Mas cabe a cada um de nós reeditar esse cenário, resgatar o que realmente foi bom, extirpar aquilo que não presta, que confunde, que ludibria ou macula. Aprender com bons exemplos e parar de achar desculpa ou algoz. Ontem eu diria “menos frescura minha gente”. Hoje, plagiando um dito popular, sugiro “menos mimimi”.

Brinquemos com a vida, vamos sorrir, cantar, sujar as mãos e os pés na terra, tomar banho de chuva, brincar sim de polícia e ladrão com armas de brinquedo, com vassouras imitando espingardas ou com as próprias mãos. Ou quem sabe pega pega (pique), esconde esconde (pique esconde), taco (bete), queimada, bolinha de gude, andar de carrinho de rolimã (trolinho), pera uva maçã (beijo abraço aperto de mão), jogar bola na rua, ralar o dedão e o joelho, rasgar as roupas e gozar a vida com plenitude. Sem idade, sem rótulos, sem frescura. Amando e respeitando, cultivando as verdadeiras amizades.

Desarme seu coração dos julgamentos. Desarme sua mente dos preconceitos. Não confunda alhos com bugalhos. Desarme-se!!!

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Roger Campos

Jornalista

MTB 09816

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