Já há algum tempo um problema vinha tirando o sossego de comerciantes, populares que transitam pelo local com frequência e autoridades constituídas: o número de andarilhos que estavam se amontoando no calçadão da Avenida Oswaldo Cruz, nas proximidades do semáforo com a Avenida Ipiranga.

Só nesta semana diversos leitores reclamaram de situação precária e absurda dessas pessoas no Conexão Três Pontas. Mas o que realmente emperrava qualquer atitude para tirá-los dali, dando-lhes algum conforto, moradia e dignidade era simplesmente o fato deles relutarem, não aceitarem a mudança em nenhuma hipótese, conforme reportagem feita no dia 19 de novembro de 2014.

Mas nesta segunda (6), o prefeito Paulo Luís decidiu tomar uma atitude mais drástica. Os moradores foram retirados do local e encaminhados para uma moradia, acabando com aquela quantidade de papelões, cobertores, sacolas e entulhos que se acumulavam no trecho da Avenida Oswaldo Cruz, uma das principais vias de acesso para a cidade.

Uma operação chamada Cidadania regida pela Guarda Civil Municipal retirou alguns homens que não aceitavam deixar o local e preferiam continuar vivendo em condições subumanas. A Secretaria Municipal de Assistência Social deu todo apoio para o êxito da operação. E o local foi desocupado e lavado.

A moradia ofertada pela Prefeitura Municipal de Três Pontas oferece condições dignas de sobrevivência e terá o acompanhamento da Assistência Social, por parte do Creas. Lá, eles terão alimentação, banho, cama e toda tranquilidade para viverem com dignidade.

CONEXÃO MOSTROU O PROBLEMA EM 2014

A reportagem lembrava que “apesar de não serem violentos, muitos populares, como comerciantes, reclamam da presença dos andarilhos no local e há ainda aqueles que se solidarizam com a situação de penúria e, aparente, abandono por parte da família.

A Secretaria Municipal de Assistência Social, da Prefeitura Municipal de Três Pontas, tem feito um acompanhamento e buscado soluções para a situação dos moradores de rua. Uma delas foi a implantação do Projeto “Não dê Esmolas, Promova Cidadania”, que pede para que as pessoas parem de dar esmolas a esses moradores, e sim promovam a cidadania e a dignidade dos mesmos.

O projeto foi apresentado pelos funcionários do CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência Social, composto dos profissionais que já lidam com essa situação, como o psicólogo Miller Tavares, a advogada Cíntia Aparecida de Souza Freitas, a assistente social Luciana Silva Bárbara e a coordenadora do centro, Sara Silva Souza”.

Na época o psicólogo do CREAS, Miller Tavares afirmou que o acompanhamento vinha sendo constante por parte da Secretaria Municipal de Assistência Social e reiterou que esses cidadãos não abrem mão de continuar nas ruas: “O órgão de atendimento dessas pessoas é o CREAS e a própria Assistência Social. Nós fazemos frequentemente uma abordagem de oferta para o tratamento da dependência química, porque essas pessoas que estão nas ruas são vítimas da dependência do álcool e das drogas e isso impede que elas busquem uma saída, um emprego e até a convivência familiar. Nós mesmos procuramos as famílias dessas pessoas, mas por conta do estado em que elas se encontram já se esgotaram as tentativas de ajuda por parte dos parentes. Nós insistimos, tentamos mostrar para a família a importância do diálogo e da presença deles. O objetivo é propiciar a reinserção deles no seio familiar, no mercado de trabalho e na sociedade como um todo, com respeito e dignidade”, pontuou.

Ainda conforme o psicólogo do CREAS, são feitas muitas críticas e de forma frequente pelo fato desses moradores de rua se encontrarem num local público. “Independente do local que eles se encontrem eles são cidadãos e têm o direito de ir e vir. Por isso lembramos que a população deve nos ajudar, se conscientizando de que não deve dar esmolas para essas pessoas. Isso dificulta o nosso trabalho. Muitas vezes durante nossas abordagens eles estão sob o efeito de álcool e drogas, alimentado pelo dinheiro das esmolas. E o mais importante de se dizer é que eles mesmos não querem sair das ruas. Eles dizem isso frequentemente, afirmando ter pessoas que os ajudam, com almoço, com roupas, etc. Nós não somos contra a caridade. Ajudar com alimentação é necessário e um grande gesto de humanidade. Nós pedimos para não dar dinheiro. Hoje nós temos cerca de 4 ou 5 moradores de rua, mas esse número oscila porque tem gente que vem de outras cidades, ficam um tempo e vão embora. E a grande maioria desses moradores de rua tem família, mas perderam o contato e a aceitação por causa da dependência química”, concluiu.

O tratamento oferecido é do Governo Federal e durante seis meses essas pessoas são tratadas gratuitamente. A maioria dos moradores de rua de Três Pontas é de dependentes de álcool e não de drogas e não há nenhum registro de ato violento ou crime praticado por eles.

Em conversa com os moradores de rua que ficam na Avenida Oswaldo Cruz, percebemos a vontade de continuar nessa situação, por mais absurda que seja. Conforme JR, de 36 anos, natural de Itutinga, radicado em Três Pontas há anos, e que possui uma irmã na cidade, estar na rua é uma opção própria: “É uma opção minha. Para eu não maltratar as pessoas e não ser maltratado. Eu opero qualquer tipo de máquina, mas escolhi estar na rua. Muita gente nos ajuda, as pessoas vêm e fazem caridade. A Assistência Social nos ajuda sempre. A Luciana me ajudou e eu já fui internado. Se eu quiser largar de beber eu largo, mas eu não quero. A única coisa que precisa ser feita é a construção de um albergue. No mais, tudo é feito pra nos ajudar”, disse.

JR é morador de rua e garante que poderia estar com a família ou trabalhando, mas prefere se manter na rua e bebendo.

“Além de todo acompanhamento feito pelo CREAS nós também tentamos resgatar a cidadania dessas pessoas, através da confecção dos documentos pessoais, para que elas, após o tratamento, consigam um emprego, a reinserção social e uma condição de vida melhor. Nós analisamos essa questão de vários pontos de vista, mas tenham certeza de que estamos fazendo tudo o que é possível por esses cidadãos que hoje estão nas ruas, mas que amanhã poderão se tornar pessoas felizes, sem os vícios e na companhia de seus familiares, com trabalho e dignidade”, comentou na época o prefeito Paulo Luís.

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