A onda roxa está indo embora, mas deixa um rastro de crise severa na economia mineira

Seguindo a série de entrevistas especiais sobre os efeitos causados pela pandemia de coronavírus à economia de Três Pontas, especialmente durante a chamada onda roxa, implementada pelo governo do estado de Minas Gerais em praticamente todas as regiões desde o dia 17 de março e que chegará ao fim neste sábado (17 de Abril), após duas prorrogações.

Nossa reportagem conversou com o diretor da empresa MakPlast,  Wilson Ferreira Júnior, também responsável por outras empresas do mesmo segmento na vizinha Cidade de Varginha. Ele fala sobre todos os danos severos que vêm sendo provocados ao setor industrial desde o início da pandemia.

Conexão – A MakPlast é uma das empresas mais tradicionais do setor de plásticos do Sul de Minas. De que forma ela foi afetada pela pandemia de coronavírus?

Wilson Jr. – É um prazer falar com o Conexão Três Pontas,  embora o tema não seja nada agradável. Essa pandemia tem trazido uma série de problemas para o setor industrial, bem como na cadeia do plástico E tem feito com que cada empresário repense os seus negócios. foi preciso sair da mesmice, sair de cima do muro e tomar algumas decisões que para muitos não são nada agradáveis. A pandemia trouxe muitas dificuldades de acesso às matérias-primas. Como a cadeira plástica tem praticamente um único fornecedor e ainda, com o dólar alto, as petroquímicas estão preferindo exportar seus negócios do que comercializá-los dentro do país para que tenham um lucro maior. Então a matéria-prima está mais escassa no mercado interno. Daria para exportar esse material?  Sim. Mas com o preço que está o dólar é totalmente inviável. A própria matéria-prima está muito mais cara, o grão de plástico no Brasil subiu muito de preço.  Nós até estávamos conseguindo comprar dos Estados Unidos a um preço razoável, mas com a nevasca que passou por lá também ficou inviável.

Então, o setor do plástico está sendo sim muito prejudicado com a falta de matéria-prima. Acha-se a matéria-prima no Brasil? Sim, acha! Mas aí temos que pagar o preço que é pedido. Existe muita especulação de preço na matéria-prima e na mercadoria em todo o Brasil. Outro fator dificultador é a própria doença, é o coronavirus. Já tivemos 10, 20 ou até 30 colaboradores afastados por conta da covid-19. Às vezes muitos desses nem estão positivados com o vírus, mas conviveram com pessoas que confirmaram a doença e procuramos tomar todos os cuidados pensando sempre no bem-estar de todas as pessoas.

Há casos em que um único colaborador fica afastado em um ou dois momentos e isso acaba prejudicando muito o andamento da empresa. A logística, o andamento da fábrica fica totalmente prejudicado. Por tudo isso que falei realmente o empresário brasileiro e até o empresário mundial estão tendo que ter muita criatividade e otimismo para enfrentar este momento.

Conexão – Você acredita que as empresas do setor do plástico já estão tendo que demitir por conta da pandemia aqui em Três Pontas? Se ainda não começaram, é uma realidade que assusta e ameaça daqui para frente?

Wilson Jr. – Até o final do ano passado não estava havendo demissões porque ainda encontrávamos a matéria-prima no mercado. Mesmo que custando mais caro a gente conseguia encontrar, embora com uma certa dificuldade. Hoje, só encontramos matéria-prima com os preços muito elevados, até 120% mais cara e infelizmente todo esse cenário de especulações fará com que as demissões ocorram. O mês de março foi o pior mês desde o início da pandemia, a fábrica chegou a parar em alguns momentos por causa de falta de matéria-prima, dificuldades com o papelão, muito grandes, já que a reciclagem do papelão foi muito prejudicada. Como o governo soltou o auxílio emergencial, como uma importante ajuda para o trabalhador brasileiro, muitos acabaram deixando de lado o recolhimento de materiais recicláveis, como por exemplo o papelão. Há uma dificuldade enorme de se encontrar o papelão no mercado ou mesmo os seus derivados.

O meu maior temor é que a situação tem se agravado dia após dia. Nossa fábrica já está com vários funcionários de férias. Antes de precisar demitir estamos dando férias. E o próximo passo, infelizmente, é que algumas demissões ocorram, não em massa, mas que realmente aconteçam. Eu ainda acredito que as demissões não ocorram na MakPlast, mas no setor de plásticos, de uma forma geral, as demissões já estão ocorrendo sim.

Conexão – A MakPlast emprega quantas pessoas hoje em dia?

Wilson Jr. – A MakPlast, a Alfa, o grupo de empresas da qual representamos, aqui em Três Pontas e em Varginha, emprega hoje em dia cerca de 180 a 200 colaboradores. O setor de plástico emprega muito em Três Pontas. Só a ArtVac deve ter hoje cerca de 800 colaboradores ou mais. A Tega não é bem uma empresa do plástico, mas atua com materiais parecidos. Temos ainda a Politubos, Lassane, Estrela e a TPplast. Todas juntas devem gerar entre 2000 a 3000 empregos diretos. Fora os empregos indiretos.

Eu tenho conversado com empresários do setor aqui em Três Pontas, como a Estrela e a Politubos, por exemplo, e eles também têm se queixado bastante da falta de matéria-prima no mercado.

Conexão – Pelo que você tem conversado com colegas empresários do mesmo setor, ainda é cedo para se cogitar fechamento de alguma empresa?

Wilson Jr. – Sim. Fechamento ainda é cedo para se falar. Isso justamente pelo fato da matéria-prima, embora muito mais cara, ainda continuar sendo encontrada, apesar das dificuldades. O setor de plástico é muito grande em Três Pontas, tem uma grande força e representatividade e por enquanto eu não acredito em nenhum fechamento, mas que a diminuição de colaboradores é uma realidade, infelizmente não há como fugir disso. A perda de faturamento é muito significativa neste momento.

Conexão – Em média, quantos currículos a MakPlast e as empresas do seu grupo recebem por dia ou por semana? Você nota uma crescente procura por vagas de emprego?

Wilson Jr. – Eu não sei te precisar esse número, mas como os currículos que chegam até a MakPlast são entregues diretamente na recepção, e eu vejo muitas pessoas entregando o currículos diariamente, posso te assegurar que a procura por emprego é bastante grande na cidade. Somente enquanto você estava aguardando para que gravássemos esta entrevista, vi de duas a três pessoas entregando currículos na recepção. Mas eu não percebi um crescimento na procura de trabalho por conta da pandemia. Já tínhamos um volume alto de busca por trabalho antes da chegada do coronavirus. E também acontece um outro fato importante: às vezes temos 30 vagas de emprego, mas às vezes a função tem que rodar turno, trabalhar às vezes de manhã, de noite, aos finais de semana não tem a folga que espera e, por conta disso, se tínhamos por exemplo 30 currículos, os interessados caem para 10. Infelizmente não são todos que procuram emprego que realmente estão preocupados, querendo realmente a vaga.

A cidade carece de algumas especializações, de mão-de-obra mais qualificada, como por exemplo uma escola técnica de tornearia, de solda, de eletricista, de encanador, entre outras profissões. Hoje em dia, por exemplo, é praticamente impossível encontrar na cidade um técnico, uma pessoa qualificada que faça instalação de aparelhos de ar-condicionado ou que limpe o ar condicionado. Geralmente temos que buscar esse profissional fora. Aqui na MakPlast por exemplo, o que temos feito é contratar as pessoas e dar todo treinamento para que elas possam ocupar determinadas funções.

Conexão – Olhando pelo lado empresarial, como você avalia tudo o que aconteceu por conta da onda roxa do governo de Minas Gerais? Olhando pela questão econômica, quais os efeitos dessa fase mais restritiva (que chega ao final neste sábado) para um dono de empresa, alguém com muitos funcionários contratados?

Wilson Jr. – Vou te falar o que eu penso e às vezes aquilo que pensamos acaba não agradando a todos: Eu vejo essa questão de onda roxa apenas como uma questão política. O Partido Novo, no qual o governador Romeu Zema é filiado, rompeu recentemente com o presidente Jair Bolsonaro. Eu também ocupei a função de vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis e acompanhava de perto as questões ligadas à pandemia, como as internações. E não vi um crescimento tão expressivo que obrigasse a uma restrição tão severa, a esse tipo de lookdown no estado inteiro. Realmente há regiões com agravamento maior e outras nem tanto. E acho que Três Pontas mais uma vez, é uma cidade privilegiada nesse ponto.

Conexão – Sua mensagem para encerrarmos…

Wilson Jr. – Infelizmente vemos muitas festas na cidade, Avenida Osvaldo Cruz frequentemente cheia. A direção da Santa Casa tem feito um grande trabalho de combate ao coronavírus. É preciso que todos tomem consciência e tomem cuidado, que façam a sua parte.  Aqui na empresa nós tomamos todos os cuidados.  A MakPlast tem uma grande facilidade porque é um local bastante arejado, cada máquina está com mais de 1,5 m de distância de uma para outra. Há álcool em gel em todas as máquinas, para cada colaborador. Na área de impressão também há toda essa preocupação. Fazemos palestras, fazemos a aferição de temperatura diariamente em todos os colaboradores. O nosso departamento de RH também conversa bastante com cada funcionário. Enfim, temos uma grande preocupação e executamos os cuidados e a prevenção diariamente.

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Roger Campos

Jornalista

MTB 09816

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