“É pelos 121 pacientes que estão aqui todos os dias e outros 10 que estão na UTI entubados, lutando pela vida. É por eles, pelos funcionários e médicos que estou lutando e pedindo a sensibilidade do Prefeito.”
O Conexão Três Pontas conversou com exclusividade com o homem escolhido a dedo para tentar tirar o Hospital São Francisco de Assis do vermelho. Silvio Denis Grenfell é o diretor executivo da Santa Casa. Numa entrevista absolutamente sincera e reveladora, o experiente profissional fala das dívidas, do pagamento dos funcionários e se emociona ao falar dos pacientes e da situação critica das finanças. Acompanhe:
Conexão – Apesar de toda a dificuldade da Santa Casa em Três Pontas, comenta-se tanto nos corredores da entidade quanto fora do Hospital que o Sr. é um grande profissional, experiente e que tem todas as condições de mudar a realidade financeira atual. Como o Sr. pegou a Santa Casa e como ela está agora?
Silvio Grenfell – Eu peguei a Santa Casa em abril deste ano. Mas, antes disso, em agosto do ano de 2015 eu fiquei aqui 20 dias a convite da Irmandade para fazer um diagnóstico situacional das finanças. Eu trabalho muito pra Fundação Unimed. Eu estava fazendo um trabalho em Uberaba que terminei em março e a convite do Hospital São Francisco de Assis assumi a direção executiva, não mais como um consultor. Eu disse que o Hospital precisava crescer, pois estava parado no tempo. Se não crescesse, devido aos atrasos nos repasses municipais, estaduais e federais, também devido a demora na vinda de emendas, a situação não iria melhorar. Todas as Santas Casas têm as suas dificuldades. Raras são aquelas que estão estabilizadas. Mas todas dependem desses repasses. Quando eu aqui cheguei, de posse dos dados que eu já havia levantado anteriormente eu comecei a trabalhar internamente. Tínhamos um prejuízo na casa dos 250 mil reais por mês. Isso precisava ser contido, como se fosse uma hemorragia.
Nós trabalhamos numa revisão da parte de mantimentos, suprimentos, medicamentos e folha de pagamento. Benefícios dados também foram analisados. Não existe mágica, ou você aumenta a receita ou você diminui as despesas. Apesar desse estudo e ter conseguido equilibrar as contas, não tivemos nenhum lucro, mas até setembro conseguimos equilibrar esse déficit. Nós elaboramos um fluxo de caixa até o mês de dezembro. Eu tenho até o fim do ano que vem. Mas estamos atualmente trabalhando com o fluxo até esse mês. Eu então estava contando com os repasses municipais, estaduais e federais. Sempre há um atraso pequeno, mas já estamos até acostumados.
Por exemplo, todo dia 20 ou um pouco depois entram 200 mil reais da Rede de Urgência e Emergência. Nós contamos com esse dinheiro. Já do repasse municipal nós contamos com um valor todo mês, que estava vindo até setembro. O valor é de 131.500,00. Esse é um dinheiro que eu pago os médicos, por exemplo. O SUS que chega entre o dia 08 e dia 10, eu pago a folha de pagamento com esse montante. Acontece que em outubro as coisas ficaram diferentes. As subvenções municipais de outubro e novembro não vieram. E estavam no fluxo de caixa, eu contei e preciso dela. Eu, claro, priorizei os pacientes, os funcionários, medicamentos e médicos. Todos esses precisam receber. Os funcionários trabalham duro e precisam receber. Os médicos também têm suas famílias e precisam sustenta-las. Com a ausência desse repasse foi uma dificuldade enorme. Mesmo que os 200 mil mensais da Rede de Urgência e Emergência tenham vindo até novembro, a subvenção não veio e isso complicou tudo. E não vindo eu não sei o que fazer, como sanar as dívidas mensais. De onde eu vou tirar? Tem que ter um plano B. A Caixa Econômica nos ofereceu empréstimos. Mas aí precisou da CND (Certidão Negativa de Débito) e nós não temos devido a dívidas anteriores.
A Câmara Municipal, que trabalhou muito pró-hospital, pelo menos a grande maioria dos vereadores, devolveu 400 mil reais para a Prefeitura para que esse dinheiro viesse para o Hospital. Mas não veio! Foi votado, o projeto do vereador Popó e tal. Mas não houve qualquer comunicação e num outro veículo da mídia, o Prefeito disse que estaria pensando se repassaria ou não. Disse que faria contas pra ver se liberaria ou não. Eu não quero julgar, mas peço que o Prefeito tenha solidariedade e sensibilidade para com o Hospital. Não é por mim. É pelos 121 pacientes que estão aqui todos os dias e outros 10 que estão na UTI entubados, lutando pela vida. É por eles, pelos funcionários e médicos. Eu nem daqui sou, mas virei um trespontano convicto e quero fazer deste hospital um grande hospital. Você está olhando nos meus olhos e eu afirmo isso pra você com toda sinceridade. Eu preciso desses repasses. Os funcionários estão desesperados, precisando receber. E pra piorar o repasse do SUS que deveria ter sido feito até o dia 10 não caiu na conta. O valor do repasse do SUS chega a 400 mil reais. É muita coisa. Com ele pago a folha de pagamento e a manutenção dos pagamentos.
A situação é bem difícil. Eu tenho bastante dinheiro para receber. Temos 250 mil reais que é o restante de uma emeda parlamentar da deputada Geiza Teixeira (PT). Ela já nos enviou 350 mil no meio do ano. Com certeza virão esses 250 mil, mas o estado de Minas está em calamidade financeira e isso pode demorar muito a sair. Do SUS temos 400 mil.
Conexão – Eu vi que o Sr. Ficou emocionado ao falar dos funcionários, dos médicos e dos pacientes. Percebo que o Sr. realmente tem muita vontade de reverter esse quadro. O Sr. estava falando do que tem pra receber. A Prefeitura deve algum outro valor além do repasse da subvenção dos últimos 3 meses?
Silvio Grenfell – Sim. Eu me preocupo muito com as pessoas, os profissionais, os pacientes e suas famílias. Tem outros valores que eu estou cobrando da Prefeitura, da ordem de 790 mil reais de coisas compradas pela Prefeitura para o pronto Atendimento, como Raio X e outros equipamentos. Isso fora o repasse. Mandamos uma notificação extrajudicial referente a isso e uma segunda notificação eferente ao atraso da subvenção. Essa cobrança que não se refere a subvenção terá um caminho um pouco diferente e pode demorar um pouco mais.
Nós temos hoje pra receber algo em torno de 1 milhão e meio de reais. Se tivéssemos recebido estaríamos em dia e seriámos um dos poucos hospitais filantrópicos que estaríamos com uma saúde financeira equilibrada. Sem lucro, mas pagando os funcionários e os médicos em dia, atendendo a comunidade a contento.
Conexão – Rumores e mensagens que chegaram ao Conexão dão conta de que os funcionários que estão sem receber poderiam iniciar uma manifestação ou até uma greve. O que o Sr. pensa sobre isso?
Silvio Grenfell – Eu desconheço isso. Greve eu desconheço. Eu conversei com o sindicato através do seu presidente José Nilson. Falou-se da necessidade de se fazer um manifesto lá na Prefeitura cobrando a vinda dessa verba. Eu não sou contra isso. Mas tenho muita cautela para que todo trabalho já conseguido não seja jogado por terra. Já greve eu não tenho informação e não concordo. Eu não tenho o dinheiro. Não me repassaram. Eu não estou escondendo nada de ninguém. Me preocupo com todos aqui e estou fazendo o máximo que eu posso. Seria mais um sofrimento para os nossos pacientes. Precisamos fazer divulgação disso e agradeço muito a você.
Conexão – Se esses repasses não vierem, o que o Sr. pretende fazer?
Silvio Grenfell – Teremos que tomar medidas mais drásticas, porque não terei erário, valores para manter 121 leitos. Pode ser que eu tenha que reduzir para 50 leitos. É um fato extremo? Sim, é, que só será feito em último caso e com a união de concordância de todos. Mas não está descartado. Não é pra fazer pressão em ninguém, é um fato verídico. Roupas, sapatos, por exemplo, as pessoas esperam pra comprar. Com a saúde, com o salário dos trabalhadores não.
Conexão – Como está a receptividade da população em relação ao Cartão Saúde?
Silvio Grenfell – Muito bom você perguntar isso. O Cartão nós idealizamos com a finalidade de termos uma verba nossa, sem depender de estado ou município. É uma forma da população de Três Pontas e cidades vizinhas, que dependem do Hospital, de ajudar. Não é um plano de saúde, pois não é regulamentado pela ANSS. É uma ação junto a comunidade. As empresas estão participando positivamente e estão até me causando surpresa, de forma muito positiva mesmo. A Associação Comercial está fazendo toda a parte comercial e tem nos ajudado muito, através de seu presidente Michel Renan e sua diretoria.
Precisamos que a população realmente abrace essa causa e venha fazer seu cartão. O titular paga apenas 20 reais por mês e os dependentes, sem limite de idade, apenas 10 reais mensais. Com isso terá atendimento prioritário, descontos em exames e procedimentos, consultas mais baratas, benefícios em farmácias, dentistas, academias e muito mais. Sete grandes farmácias e vários laboratórios já estão participando, além de óticas. Está indo bem, mas precisamos urgente de mais ajuda.
Conexão – Suas considerações finais…
Silvio Grenfell – Existem dois tipos de pessoas: os solitários, que vivem pra si apenas, como se fosse uma ilha. E existe o solidário, aquele que realmente vive feliz, faz de tudo para ajudar a quem precisa. Venham fazer esse trabalho de salvação e de crescimento do nosso Hospital. Precisamos de todos e da sensibilidade do Prefeito.
*O Cartão Saúde pode ser feito diretamente no Hospital ou na sede da Associação Comercial. Maiores informações: 3265-9700.
Roger Campos
Jornalista Conexão Três Pontas
(MTB 09816)