O crescimento no consumo de café no Brasil neste ano tende a ser mais “moderado” e talvez seja um pouco menor que o do ano anterior, quando houve uma alta anual de quase 5 por cento nas vendas no embalo da maior demanda por grãos especiais.
Ainda que o café seja um produto do dia a dia no país, segundo consumidor global da commodity, atrás dos Estados Unidos, um crescimento maior da economia poderia dar um impulso adicional à demanda, em meio a preços mais baixos, na avaliação do setor.
“Prevemos um crescimento moderado no consumo. Talvez cresça um pouco menos do que no ano passado… mas, se não repetir, fica próximo”, disse nesta segunda-feira o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Ricardo Silveira, durante evento que destacou produtores e indústrias participantes de um concurso dos melhores cafés do Brasil.
Em seguida, Silveira emendou dizendo que não acredita que o consumo de café da temporada atual atinja os 4,8 por cento registrados no último ano, o maior ritmo de crescimento visto desde 2006.
Ainda que tenha ressaltado que o café é um produto consumido amplamente pelo brasileiro, ele lembrou que a economia, que não dá sinais animadores de crescimento, tem alguma participação nos resultados do setor.
De outro lado, Silveira destacou que a aposta das indústrias em cafés de qualidade, um segmento que cresce acima de dois dígitos no país, é um fator a ser levado em consideração para o consumo nacional, ainda que o produto gourmet seja a uma parcela menor do mercado.
O repasse de parte da queda dos preços pagos aos produtores para as gôndolas dos supermercados, que pode ocorrer, segundo Silveira, seria um fator de estímulo ao consumo, diante de expectativas de um nova grande safra de café no Brasil, após uma colheita recorde em 2018.
“Cai para o produtor, o preço da gôndola também cai. Evidentemente que vai cair menos, não tanto quanto para o produtor”, admitiu ele.
Os preços no mercado global estão oscilando perto de mínimas de 13 anos na Bolsa de Nova York, afetando produtores em todo o mundo. No Brasil, o câmbio firme tem compensado parte dessa queda, ainda que as cotações ao final de março tenham ficado perto de mínimas em mais de cinco anos, no caso do café arábica, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
A queda nas cotações do produto poderia limitar investimentos nas lavouras, algo que impactaria a safra futura, não em 2020 (ano de alta produtividade do arábica), mas em 2021 (a de baixa), segundo avaliações do mercado.
SAFRA BOA
O presidente da Abic disse que a safra deste ano de café do Brasil, maior produtor e exportador mundial da commodity, com colheita já começando em algumas áreas isoladas, especialmente da variedade robusta, tende a ser boa, com qualidade semelhante à do ciclo anterior.
Ele comentou que a Abic trabalha com números oficiais, que apontam para a maior safra em um ano de baixa do arábica da história no Brasil, de cerca de 54 milhões de sacas de 60 kg.
“Não acredito em impacto da seca de janeiro. As chuvas de fevereiro ajudaram a recuperar”, afirmou o dirigente, lembrando que aquelas áreas com mais investimentos, especialmente fertilizantes, saíram-se melhor da adversidade climática.
Silveira, também um cafeicultor na região do Cerrado mineiro, onde cerca de um terço do café é irrigado, disse que o Brasil tende a passar com mais tranquilidade pelo período de baixos preços globais, na comparação com outros países, pois sua cafeicultura é mais produtiva.
De qualquer forma, uma redução de investimentos no campo não é algo que não pode ser ignorado pela indústria. “Quando um elo da cadeia está sofrendo, os outros não vão conseguir se sair bem.”
Aqueles produtores que investem em cafés especiais, contudo, conseguem prêmios. O cafeicultor Joel Marques de Oliveira, campeão do concurso da Abic em parceria com Paulo Azevedo, que cultivam em Ibicoara, na Bahia, conseguiram vender seu melhor produto na temporada passada com alta de 50 por cento ante o valor do mercado.
“Neste ano, esperamos um prêmio ainda maior, devido à premiação”, disse Azevedo. Ele e a família de Oliveira, responsável pela colheita e pelo pós-colheita dos grãos premiados, cultivam 15 hectares de café em uma altitude na Chapada Diamantina, a 1.110 metros, fator que também ajuda nos atributos do produto.
Para o corretor e classificador de café da Bahia José Carlos Novaes, também presente do evento da Abic, cafés de concurso são nichos, infelizmente, o que implica dizer que o setor está sofrendo com os preços atuais.
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Roger Campos
Jornalista
MTB 09816
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