Foi com o sono dispersivo da manhã que me interliguei na primeira conexão do dia e li em letras ainda difusas as palavras: “Fernando Brant” e “ Luto”…Um choque me espalhou pela mente e diria que entrei em curto-circuito. Com inquieta incredulidade, fixei ao máximo a atenção na manchete do Jornal “O Tempo” e li: “Tristeza e luto geral, o genial Fernando Brant nos deixou!!!
O que dizer?! “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver, forte eu sou, mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar ”…
O gênio de Brant nos deixa um legado de riquezas diversas, porque seus versos traduziram como ninguém as Marias, as Minas e seus amores gerais, a amizade que irá nos valer, no corpo e na cidade, os nossos corações americanos… Saí dentro de um vazio que não se preenche, ruas e avenidas, becos , lugares e pessoas…tudo se tornou mais pobre, mais pequeno e difícil de preencher.
Fernando Brant, conjuntamente com o mais que ilustre parceiro de canções e de vida Milton Nascimento, nos presenteou com inúmeras canções inesquecíveis que irão se repetir e ainda embalar muitos futuros corações civis e atentos. Difícil não cantarolar alguma canção mais popular de Milton, que não remeta a alguma parceira com Fernando: “Travessia”, ”Maria- Maria”, “Canção da América”, Bola de Meia -Bola de Gude” , “Bailes da Vida”,”Veveco, Panelas e Canelas”, ”Conversando no Bar”, ”Milagre dos Peixes”, “Ponta de Areia”, ”San Vicente”, além de outras muitas pérolas do cancioneiro de Minas Gerais.
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Poeta de essência lírica, mas bom mineiro que sempre foi, com os pés fincados no chão, atento às questões políticas e sociais do seu país, em letras de canções como “Coração Civil”, “Notícias do Brasil”.
Ao lado de Márcio Borges e Ronaldo Bastos, formou a trindade lírica germinal do lendário Clube da Esquina, também com outros ilustres integrantes como Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta ,Tavinho Moura. Escreveu outras tantas preciosidades como : “O Medo de Amar é o Medo de ser Livre”, “Paisagem da Janela”, ”Manuel o Audaz”, “Paixão e Fé”
Fica uma partida que deixa lacunas profundas, como as deixadas por um poeta genial, como Carlos Drummond de Andrade, ou a recente partida de Ruben Alves. Suas letras vivem tão intensamente vibrantes e independentes, como as próprias melodias para que foram criadas. Fernando Brant foi dos melhores “tradutores” do canto sublime, enigmático e poderoso de Milton Nascimento. Suas palavras casaram-se perfeitamente com as melodias ascendentes e descendentes, dos sinuosos mares das montanhas das terras Gerais.
Ficará eternizado na nossa memória o seu jeito simples, amigo e mineiro de ser. O seu jeito de falar de mineiridades, de sonhos, de vida, de amor, de amizade. Fica no peito essa dor, essa saudade, de alguém que falou e cantou tanto essa “Travessia”…
Nossa eterna gratidão ao mestre Fernando Brant.
Clayton Prosperi de Paula