PREJUÍZO É ESTIMADO EM CERCA DE R$ 10 MILHÕES.
Vários produtores de café da cidade de Três Pontas foram pegos de surpresa na última segunda-feira (04), quando constataram que o café que eles depositam para venda em um armazém havia desaparecido. A Polícia Civil está investigando o caso que virou o principal assunto na cidade.
Estima-se que aproximadamente 25 mil sacas de café tenham desaparecido do galpão da empresa Armazém Café Confiança, no distrito industrial, em Três Pontas.
A produtora de café Jaqueline Figueiredo revelou que tinha 4 mil sacas de café no galpão. Que tudo sempre correu dentro da normalidade. Mas que na última sexta-feira precisou que o dinheiro estivesse no banco para cobrir as despesas de pagamento de funcionários. Após constatar que o dinheiro não caiu na conta, teve a surpresa desagradável de encontrar o galpão praticamente vazio, sem os seus cafés.
“A empresa fazia tudo certinho, vendia os cafés e depositava os valores nas contas dos produtores. Nós acertávamos a comissão dele. Tudo fluía normalmente. Mas agora aconteceu isso, estou me sentindo péssima, lesada. Toda uma vida a gente junta, trabalha, trabalha, trabalha e se vê sem nada. Pegam tudo que você tem. Isso é muito desagradável”, disse a produtora.
Onze produtores procuraram a Polícia Militar e registraram o Boletim de Ocorrência.
O proprietário do armazém, Luciano Vítor de Faria, responsável pelo armazenamento e venda das sacas de café, foi conduzido até a sede do Quartel da PM para dar explicações. Ele disse em entrevista à TV Alterosa que cometeu “erros administrativos”:
“Foi um erro de administração que eu cometi ao não pedir ajuda para tentar segurar o nome que eu tinha. Só que eu perdi o controle”, revelou.
O empresário disse à polícia que abriu a empresa no ano de 2012 e que desde então começou a administrar os cafés de pelo menos 15 produtores da cidade, na forma de cooperativa. Ou seja, vendia o café no mercado futuro e repassava os lucros aos produtores. Segundo Luciano, nos dois primeiros anos tudo teria ocorrido dentro das expectativas. Mas que a partir de 2014 começou a fazer algumas negociações erradas, levando a empresa à bancarrota, ficando endividado. Por conta disso teria começado a usar as sacas de cafés dos cooperados para sanar seus compromissos.
“Eu arrisquei no mercado de café, tentando resolver da melhor forma para que ninguém tomasse prejuízo. Nunca me passou pela cabeça causar prejuízo a ninguém! Só que o mercado de café é sempre uma situação perigosa e que foi se agravando. Eu achava que iria consertar e a coisa só piorava. A cada ano a situação foi piorando mais e nos últimos dois anos o mercado foi mais cruel comigo. Chegou num ponto que eu perdi o controle de tudo”, afirmou Luciano.
Alguns produtores relataram que as sacas de café estavam no galpão da empresa até o final de ano e estranharam o que chamam de “sumiço rápido” de toda essa quantidade do grão. Para eles, os cafés foram vendidos nas últimas semanas.
Luciano ainda declarou que “apesar de não saber como, de onde tirar, pretende resolver essa questão (prejuízo) com cada um dos produtores, o mais rápido possível”.
A Polícia Civil recolheu na sede da empresa documentos e computadores que possam ser indicativos do que de fato ocorreu e, inclusive, o paradeiro desses cafés. O caso continuará sendo investigado.
Uma outra linha de investigação a ser levantada é se todos os cafés que estavam depositados no Armazém Café Confiança eram frutos de negociação feita mediante emissão de nota fiscal. Nossa reportagem está apurando essa vertente.
CASOS “PARECIDOS”
Em Três Pontas outros dois casos envolvendo, segundo levantamento do Conexão, desvio de dinheiro de terceiros também ganharam os holofotes e repercutiram na mídia, também deixando a cidade de “pernas para o ar”. Um deles envolveu uma empresa de factoring (empresa de fomento mercantil, como também são chamadas, a fim de adiantar os recebíveis, ou seja, compram à vista as vendas realizadas à prazo, comprovadas por títulos como cheques, duplicatas mercantis, ou notas promissórias). Seu antigo dono teria desaparecido com o dinheiro de dezenas de clientes e nunca mais foi visto em Três Pontas. Algumas pessoas afirmam ter reconhecido o indivíduo em Juiz de Fora e Poços de Caldas.
O segundo envolveu uma extinta cooperativa de café que também teria desviado recursos, principalmente, de pequenos produtores, oriundos de vendas realizadas pela empresa e não repassados aos seus proprietários. O que se sabe é que a cooperativa fechou as portas e que, segundo profissionais do meio cafeeiro de Três Pontas, algum tempo depois, muitos produtores lesados teriam sido ressarcidos.
As informações sobre os dois casos, das investigações e consequências, dos possíveis crimes, são restritas, pouco se sabe.
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Roger Campos
Jornalista
MTB 09816
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