Por que é preciso usar máscara e manter distanciamento social mesmo após tomar a vacina contra a covid-19? Quantos dias leva para a pessoa estar imune ao coronavírus?

Uma das vacinas que já se provaram eficazes contra a covid-19 — a da Pfizer — está sendo distribuída no Reino Unidodesde desde o dia 8 de dezembro de 2020. E hoje, domingo (16) a Anvisa aprovou o uso emergencial de duas vacinas no Brasil, a CoronaVac e a vacina de Oxford. Qual vai ser a primeira coisa que você vai fazer depois de tomar a vacina? Se já estava fazendo planos de abandonar a máscara imediatamente, viajar, ir para a balada e rever todo mundo que não conseguiu encontrar em quase um ano de pandemia, os médicos e infectologistas alertam: na verdade, a vida não vai voltar ao normal logo após tomar a vacina.

“Depois de tomar a vacina, é preciso voltar para casa, manter o distanciamento social, aguardar a segunda dose e depois esperar pelo menos 15 dias para que a vacina atinja o nível de eficácia esperado“, explica a bióloga Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência.

“E mesmo depois de tomar as duas doses da vacina, é preciso esperar que boa parte da população já tenha sido imunizada para a vida voltar ao normal.”

Tempo para o corpo reagir

Embora existam particularidades dependendo do tipo de vacina e do tipo de doença, o mecanismo geral de funcionamento de uma vacina é sempre o mesmo: ela introduz no corpo uma partícula — chamada antígeno — que produz uma resposta imunológica no corpo e faz com que ele esteja preparado para enfrentar um tentativa de contaminação do corpo caso entre em contato com o vírus no futuro.

Esse antígeno pode ser um vírus desativado (morto), um vírus enfraquecido (incapaz de adoecer alguém), pode ser um pedaço do vírus, alguma proteína que se assemelhe ao vírus ou até mesmo um ácido nucléico (como a vacina da RNA).

“O antígeno provoca uma resposta imunológica, ou seja, faz com que o corpo se torne capaz de reconhecer aquele vírus e produzir anticorpos para combatê-lo”, explica o médico infectologista Jorge Kalil, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

A primeira resposta imunológica produzida pelo corpo depois da vacinação é a produção de anticorpos, que se ligam diretamente ao vírus e impedem que ele entre nas células do corpo e as utilize para produzir mais vírus, explica Pasternak.

Ou seja, em uma pessoa imunizada, o corpo já conhece o vírus por causa da vacina e a partir do momento em que o patógeno entra no corpo são liberados anticorpos que impedem a contaminação de células.

Mas existe um segundo tipo de resposta imunológica, chamada resposta celular. “São células — as chamadas células T — que não se ligam ao vírus, mas reconhecem quando uma célula está contaminada com o vírus e a destroem”, explica Pasternak.

Ou seja, se algum vírus conseguir escapar dos anticorpos e contaminar alguma célula do corpo, as células T funcionam como “caçadoras” e destroem essa “célula zumbi”, impedindo que mais vírus sejam produzidos.

A resposta celular demora um pouco mais que a resposta através de anticorpos — mais um motivo para que a imunização só esteja completa algumas semanas após tomar a vacina, explica Jorge Kalil.

Dá próxima vez que entrar em contato com aquele vírus, o corpo já terá a memória de como combatê-lo e conseguirá enfrentar a ameaça de forma rápida e eficiente, impedindo que o vírus contamine o corpo.

Essa resposta é chamada de resposta imune adaptativa e ela é específica para cada vírus. “É uma resposta que demora um pouco mais, são pelo menos duas semanas até que o corpo aprenda a reconhecer e combater o vírus com a ajuda do antígeno”, explica Natália Pasternak.

É por isso que após tomar uma vacina — quer seja a contra o coronavírus ou contra qualquer outra doença — você só está realmente protegido depois de algumas semanas, explicam os cientistas. É como se o corpo precisasse de um tempo para “processar” aquelas informações e reagir de forma adequada.

Em uma pessoa não vacinada, o Sars-Cov-2, vírus que causa a covid-19, entra nas células dos sistema respiratório e começa a usá-las para produzir mais vírus. É como se produzisse “células zumbi” que trabalham para ele.

Fontes Época / OMS / Anvisa

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Roger Campos

Jornalista

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