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“85% das pessoas que procuram e superlotam o PAM deveriam ser atendidas nos postos de saúde.”

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Dr. Lucas Erbst foi nomeado diretor clínico do Pronto Atendimento Municipal em Três Pontas. Tido como um médico exemplar e uma pessoa atenciosa, ele convive com elogios e agradecimentos diários, tanto de forma pessoal quanto nas redes sociais. Mas ele também está tendo que conviver com questionamentos, com cobranças e insatisfação por parte dos usuários do PAM. Tranquilo e certo de que as melhorias virão, Dr. Lucas respondeu todas as perguntas que o Conexão encaminhou até ele, oriundas de leitores do portal. Uma entrevista reveladora e de grande importância.

Conexão – É público e notório o carinho e a aceitação que você tem como médico. Porém também é sabido que muitas pessoas têm questionado a demora no atendimento realizado no Pronto Socorro. Como você vê isso?

Dr. Lucas – Primeiramente eu quero aproveitar e agradecer a cada pessoa que sempre me elogia e se mostra carinhosa comigo. Agradecer a toda cidade que me recebeu de braços abertos. Eu espero fazer um trabalho bem feito para que todos fiquem satisfeitos.

As melhorias começaram logo que assumimos, na parte interna. Nós reequilibramos as medicações, recebemos itens que estavam em falta, contratamos agora uma nova farmacêutica que ficará no PAM diariamente. Houve muitas mudanças no corpo de enfermagem e estamos tendo que treinar essas pessoas que estão chegando. Já estamos instalando aparelhos de ar condicionado, inclusive na sala de emergência e vem coisa boa por aí. A população tem todo direito de cobrar. Mas inicialmente precisávamos fazer as reformas internas e agora iniciar as mudanças estruturais, maiores, que deixarão o PAM melhor.

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Nós estamos planejando uma série de alterações e mudanças grandes que tornarão a operacionalidade do Pronto Socorro muito melhor, inclusive na forma do paciente ser acolhido e entrar para ser atendido. As melhorias precisam de estrutura sólida, para que não volte atrás. Nós refizemos a planilha de medicamentos, mexemos no pessoal da limpeza e está tudo começando a melhorar.

Conexão – Vocês estão também trocando alguns médicos. Fale sobre isso.

Dr. Lucas – É verdade. Alguns médicos estão saindo porque estão se aposentando. Já estou convidando e já temos novos médicos vindo pra cá. Não está faltando médico no PAM. Alguns médicos também diminuirão suas cargas de trabalho e por isso chamei médicos de ponta, conhecidos na região, para atender e suprir as necessidades daqui.

Não está faltando médico, mas também não está sobrando. E a responsabilidade em caso de alguma falta é toda minha.

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Conexão – Dr. Lucas questionaram sobre a falta de um pediatra no PAM. O que pode ser dito sobre isso?

Dr. Lucas – Bom, é preciso esclarecer que o trabalho de atendimento no PAM não inclui serviço de pediatria associado. Aqui nós atendemos casos de urgência e emergência, pacientes em risco de vida. Dor nas costas, tosse, gripe, resfriado, crianças com febre, viroses ou coisas do tipo são comuns e devem ser encarados como atendimentos secundários. O Pronto Atendimento Municipal tem que atender e priorizar casos de risco de vida. Não tendo num determinado momento nenhum caso grave, atenderemos a demanda livre. A grande maioria dos casos deveria ser atendida pelos Postos de Saúde e infelizmente isso não está funcionando corretamente ainda.

Infelizmente a demanda de atendimentos aumentou drasticamente depois que aconteceram algumas mudanças nos Postos de Saúde. Nós atendíamos uma média de 100 pacientes por dia, das 7 da manhã ás 7 da noite e agora esse número chega perto dos 200 atendimentos, praticamente dobrou e estamos com a corda no pescoço.

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Tivemos que reorganizar toda medicação e estrutura do PAM para acolher esse dobro de pacientes. Mas está difícil assim. Eu já tenho conversado com o prefeito Luiz Roberto e com o secretário de Saúde, Heleno Carlos dos Santos para que encontremos uma forma das mudanças não afetarem e sobrecarregarem tanto o Pronto Socorro. As pessoas vão nos postos e não conseguem consulta na hora e só pra alguns dias depois e isso tem feito com que essas pessoas acabem vindo ao PAM.

Conexão – Você me diria que muitos pacientes procuram o PAM sem precisar?

Dr. Lucas – Infelizmente sim. Muitos chegam aqui com gripe, resfriado e coisas que poderiam ser atendidas nos postos. O Pronto Socorro não é pra isso. Então uma pessoa chega aqui com gripe e nós passamos a medicação e o tratamento será em casa. Nós olhamos só naquele momento. E nós temos que priorizar os casos de urgência e emergência. Não fazemos tratamento de pressão, de diabetes, etc. Esse tipo de atendimento, de acompanhamento, deve ser feito nos postos. Esse é um problema comum em todas as cidades.

Mas estamos conversando com os Postos para encontrar uma solução, direcionando esses pacientes para que eles não procurem o serviço do PAM de forma errada. Nós fazemos tudo que podemos aqui com muito carinho, mas acompanhamento médico não é no PAM, é nos postos ou em consultas particulares.

Conexão – Sobre a demora no atendimento, o que pode ser feito?

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Dr. Lucas – Isso nos preocupa e estamos mexendo na parte estrutural para melhorar esse quadro. É claro que se continuarmos a receber esse número de pacientes ficará difícil. Portanto é necessário frisar mais uma vez que no PAM os atendimentos de urgência e emergência e de casos de risco de vida serão atendidos primeiro. Uma pessoa com dor nas costas ou com gripe terá que esperar uma, duas ou três horas, caso aconteça de, por exemplo, chegar uma ambulância do SAMU com alguém em estado grave. Até restabelecermos esse paciente gravíssimo os outros terão que esperar.

Todo mundo será atendido, mas os casos mais delicados passarão na frente, como manda o Protocolo de Manchester, que nós utilizamos e que determina através das cores que tipo de quadro a pessoa apresenta e o período em que pode esperar ou não. Pacientes graves são sempre atendidos primeiro. Os demais podem esperar até 4 horas e depois ser reavaliado. Isso está na lei, é assim que funciona e não fazemos nada errado, mas temos que priorizar osa casos graves.

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Conexão – O vereador Erik Roberto disse na Câmara algumas vezes que a solução para o PAM seria mudar o horário de troca de plantão dos médicos, das 19 para às 18 horas. O que você pode falar sobre isso?

Dr. Lucas – Em todos os Hospitais e Pronto Atendimentos existe uma breve paralisação dos atendimentos durante a troca de plantão, isso é normal. Claro que isso atrasa um pouco as consultas e como aqui já estamos trabalhando além do que suportamos fica um pouco mais difícil. Temos que passar caso a caso para outros médicos que estão entrando. Isso leva em torno de meia hora. E se numa troca de plantão chegar uma ambulância com caso grave demorará mais ainda para voltarmos a atender a demanda comum.

Sem a continuidade não existe trabalho. O pessoal da enfermagem troca ás 18 horas e os médicos às 19 horas. Mudar isso é impossível, pois os médicos têm escala em outros hospitais que tem sempre a troca às 19 horas. A troca de plantão é padronizada de acordo com cada serviço, aqui, em São Paulo, Varginha, etc.

Conexão – Como você classifica o atendimento ofertado aqui no Pronto Socorro de Três Pontas?

Dr. Lucas – É muito bom, apesar das dificuldades. Aqui todo mundo é atendido e nós procuramos atender a todos com muito carinho e respeito. Eu mesmo atendendo cada um como se fosse um familiar meu. Há locais fora daqui que além da pessoa ter que esperar muito, muitas vezes volta pra casa sem atendimento.

Desde antes de ser coordenador do PAM eu já via a saúde em Três Pontas como muito boa perto de outras cidades. Eu trabalhei no Rio de Janeiro e fora de Três Pontas a coisa é muito mais complicada.

Muitas pessoas são mandadas embora pra casa para procurar um posto.

Conexão – Pra terminar, o que falta para o PAM funcionar muito melhor?

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Dr. Lucas – Olha, nós estamos realizando todas as mudanças já citadas e isso ajudará muito. Também estamos falando com a Secretaria de Transportes e Obras para mudar a recepção e entrada de pacientes aqui no PAM. Isso dará mais conforto e agilidade. Mas tudo que fizermos não adiantará muito se não houver uma consciência, amor ao próximo por parte das pessoas que muitas vezes vêm aqui sem precisar, sem ser caso para o Pronto Socorro.

Vamos continuar buscando uma solução junto a Secretaria de Saúde para melhorar o atendimento nos postos e assim desafogar o Pronto Atendimento Municipal. No mais continuarei trabalhando e lutando pela saúde de cada trespontano. Muito obrigado a todos pelo carinho e amizade.

 

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Roger Campos

Jornalista

(MTB 09816)

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