MARCO VALÉRIO FALOU EM PRIMEIRA MÃO DA NOVA UNIDADE DA COCATREL QUE IRÁ GERAR EMPREGOS NA CIDADE.
Marco Valério Araújo Brito está completando 100 dias à frente da Cocatrel. Um dos profissionais com maior know-how quando o assunto é café, especializado em mercado exterior, é trespontano, descendente de tradicionais cafeicultores e se diz apaixonado pelo grão. Após várias experiências profissionais bem sucedidas em gestão de negócios resolveu há três anos ficar mais próximo da cooperativa, em Três Pontas, como diretor comercial, e desde abril de 2018 assumiu a sua presidência. Qualificado em administração, Marco Valério tem 50 anos, é casado e tem uma filha. Nossa reportagem fez uma entrevista especial, detalhada, cheia de informações importantes e, principalmente, boas notícias, otimismo e crescimento:
Xtp – Marco Valério, primeiramente obrigado por atender ao Conexão, parabéns pelo trabalho já elogiado apesar do pouco tempo. São 100 dias de trabalho à frente da Cocatrel. Qual é o perfil do seu trabalho? Para onde você pretende levar essa cooperativa?
Marco Valério – Primeiramente dizer que eu faço esse trabalho com uma grande paixão. Pegando como referência uma frase de Isaac Newton “Só estou aqui porque me apoio nos ombros daqueles grandes que me antecederam”. A Cocatrel é uma belíssima empresa, com muita credibilidade. Talvez os cooperados e a sociedade não tenham ainda noção do tamanho dessa cooperativa, que tem um faturamento anual possivelmente maior do que o de qualquer outra empresa de Três Pontas. Temos cerca de 6 mil cooperados, mais de 500 colaboradores, atuando em 9 municípios. Muitos diretores dedicaram suas vidas a essa cooperativa e eu sei que a minha responsabilidade é muito grande em fazer um trabalho de excelência, como foi feito no passado. Entrar em time que está ganhando não é fácil, pois temos que nos superar todos os dias. A diretoria mudou. Eu era o diretor comercial e passei a presidente. Francisco de Paula Vítor Miranda é o novo diretor técnico-industrial e Luiz Antônio Vinhas de Oliveira assumiu o cargo de diretor comercial. Eles já eram conselheiros e estavam capacitados para assumir esses cargos comigo. Meu primeiro desafio é manter a solidez da cooperativa e ajustar alguns gargalos para continuarmos em crescente expansão, com eficiência e segurança. Queremos a Cocatrel mais aberta, transparente e mais próxima de seus cooperados. Essa é a cara do novo mundo e estamos colocando a cooperativa num novo mercado. Estamos no terceiro ano do projeto PAEX (Parceiros para a Excelência), da renomada Fundação Dom Cabral, onde objetiva-se a capacitação da cooperativa com a construção gradativa de um modelo de gestão, por meio da implementação de ferramentas gerenciais e estratégicas, do intercâmbio de experiências e do conhecimento. Há dois anos estamos exportando café, diretamente, para todos os continentes, agregando valor ao produto do cooperado, mostrando nosso trabalho em relação aos cafés especiais, sempre muito preocupados com a gestão do negócio, com questões de custo, eficiência e profissionalismo. A ideia, portanto, é dar soluções para o nosso cooperado, ajudando-o a ficar cada vez mais forte.
Xtp – A Cocatrel claramente tem ampliado seus negócios, sua gama de produtos, suas especialidades. Tem investido muito em cafés especiais, agora destacando os cafés em cápsulas, entre outras novidades. Para 2018, o que a Cocatrel ainda apresentará?
Marco Valério – Temos muitas novidades. Não posso deixar de citar que no próximo dia 31 de julho inauguraremos uma nova sede, bastante moderna, da loja em Nepomuceno. A Cocatrel adquiriu uma área de 33 mil metros quadrados, muito bem localizada, onde hoje, a loja ocupa 2.500 metros e, futuramente, poderemos construir um armazém. Para melhorar a logística das lojas, na loja Matriz, em Três Pontas, será implantado um Centro de Distribuição, que vai agilizar e melhorar os processos para os cooperados. Uma nova torrefação, na cidade de Três Pontas, moderna e de última geração, já está em fase final de construção e será inaugurada no início do segundo semestre, ampliando muito a nossa capacidade de produção e, consequentemente, o nosso mix de produtos, com uma linha ainda completa, agregando valor ao café, expondo mais nossa marca e ainda gerando empregos para Três Pontas e região. Além disso, temos outros projetos que visam beneficiar não só nossos cooperados, como também movimentar o comércio, a rede hoteleira e os restaurantes da cidade. Contamos hoje com quatro importantes feiras em nosso calendário. Temos a FECOM, que acontece em março e setembro, a Expocafé, em maio e, a Semana Internacional do Café, um evento muito importante, de grande visibilidade e reconhecido mundialmente, do qual, além de expositores, somos também patrocinadores. Continuaremos modernizando e expandindo os nossos armazéns. Em primeira mão, digo ao Conexão que, temos planos para expandir os nossos armazéns, em Três Pontas, na unidade Paraíso e também com silos na unidade 8, que é a nossa matriz. Vamos ainda investir em uma novos maquinários de benefício e rebenefício de café, gerando mais empregos agregando valor aos cafés dos nossos cooperados.
Xtp – A Cocatrel possui também uma linha de laticínios muito forte, bem aceita e com penetração em diversas cidades. Também haverá expansão nesse setor?
Marco Valério – Nós falamos que a linha de varejo da Cocatrel, café e laticínio, é realmente muito forte. São inúmeros produtos que primam sempre pela altíssima qualidade porque não abrimos mão de trabalhar com produtos de primeira linha. Estamos satisfeitos com a lembrança que os consumidores têm da Cocatrel quando se trata de produtos de laticínios. Estamos montando uma nova equipe de vendas, para estar mais próxima dos consumidores, abrindo mercado, atingindo novas cidades e fortalecendo nosso negócio.
Xtp – Você disse no início dessa entrevista que a Cocatrel, hoje, atinge os cinco continentes do globo. Mas estamos vendo um crescimento de mercados de café como a Colômbia e o Vietnã. O Brasil perdeu algum espaço. Isso te preocupa? Como reverter esse quadro?
Marco Valério – Esse é um mercado que exige competência e quem não tiver isso não vai se estabelecer. A Cocatrel faz seu dever de casa muito bem feito. Nós recebemos cafés de mais de cem cidades, estamos posicionados com recebimento e/ou armazenamento em dez unidades. Recebemos e processamos cafés de várias qualidades, desde os commodities até os especiais e a capacidade industrial da Cocatrel de preparar e exportar é muito competitiva e, talvez seja essa a receita para o Brasil. É preciso ter capacidade para competir e é aí que o Brasil tem perdido. Deitou-se, literalmente, em berço esplêndido, de uma forma geral. Já a Cocatrel tem avançado muito. No capitalismo é assim, alguns perdem espaço e outros ganham. A cooperativa está cada vez mais forte e preparada e temos conquistado muito espaço no mercado externo. Comercializamos muito bem nosso café para diversos lugares do mundo. Grandes e pequenos compradores estão fazendo negócio com a Cocatrel. É bem verdade que, quem não tem essa força que a nossa cooperativa tem, acaba sendo afetado por países ou regiões como as que você citou. Mas a Cocatrel, por todo seu planejamento e estrutura, se mantém firme e sólida.
Xtp – Três Pontas ainda pode ser considerada a “Capital Mundial do Café” de fato? Ou isso agora só permanece no nome?
Marco Valério – Matematicamente falando, infelizmente nós perdemos esse título. Há pouco tempo o governo de Minas divulgou, no Portal do Café, as novas fronteiras, com as áreas de plantio, e o serrado ficou muito bem colocado, com municípios com áreas muito grandes. Patrocínio tem uma área plantada praticamente três vezes maior que a de Três Pontas, com produção bastante intensa de café. Então, o título de maior produtor, por hectare plantado, nós infelizmente perdemos. Somos, hoje, a segunda ou terceira maior cidade com área plantada, só que esse conceito não é mais utilizado. O que importa é que, hoje, a Cocatrel é a primeira ou a segunda maior cooperativa do mundo. Há uma outra que movimenta mais que a gente, mas ela funciona muito mais como uma empresa do que uma cooperativa pura, que visa os princípios cooperativistas, com o foco no cooperado. Pensando assim, a Cocatrel é a maior do mundo e está em Três Pontas. Temos muito orgulho disso e podemos, dessa forma dizer que somos, sim, a “Capital Mundial do Café”.
Xtp – Falando um pouco sobre o apoio governamental à cafeicultura. Há anos eu estive na sede do CNC (Conselho Nacional do Café), em São Paulo, onde muito se falava sobre o apoio de deputados, como Carlos Meles e Silas Brasileiro. Também tinha um ministro da Agricultura, Pratini de Morais, que defendia abertamente o setor. Hoje não vejo mais essa realidade. A cafeicultura está abandonada? Não se senta mais na mesa de negociação com as maiores lideranças em Brasília?
Marco Valério – É um cenário diferente. De fato nós não temos do governo, o apoio necessário que gostaríamos. Não é o ideal. O CNC, que é um órgão que representa o setor junto às lideranças políticas, está sendo reestruturado, redefinindo estratégias e também seu perfil. O governo está realmente distante. Em 1994, tive o privilégio de comandar o Denac (Departamento Nacional do Café), em Brasília. Este era o órgão do governo que cuidava do café. Passados 24 anos, o café realmente perdeu espaço em Brasília. O Denac tinha dotação, corpo de colaboradores e muita força. Hoje perdeu esse status e não é dada atenção que merece. Atualmente, a única coisa que o governo faz é a gestão do Funcafé. Só que o Funcafé é um fundo oriundo da própria contribuição dos cafeicultores no passado. Oriundo do confisco do café, nas décadas de 60, 70 e 80. Não é um orçamento da união. Ele está na união pelo fato do IBC (Instituto Brasileiro do Café) ter sido instinto em 1989, pelo ex-presidente Collor. Esse dinheiro, então, foi para a união. Hoje falta muito, mas felizmente o produtor aprendeu a trabalhar sem o auxílio do governo. Seria muito bom se o governo ajudasse, mas não o faz.
Xtp – De uma forma mais ampla e também especificamente em Três Pontas, qual é a situação do produtor de café atualmente?
Marco Valério – A cafeicultura está muito ligada ao clima, é uma indústria a céu aberto. Seca e geada são fatores que atrapalham o planejamento. Mas de uma forma geral, vejo o produtor muito mais profissional, mais ligado às questões de gestão. A Cocatrel, por exemplo, tem um grupo de produtores de cafés especiais, com o qual é feito todo um acompanhamento para que os cooperados façam uma boa gestão na fazenda, entendam melhor os mecanismos de trava e de garantia de preço no mercado, pensando menos no governo e sendo bem respaldado pela nossa cooperativa. Nosso produtor está muito bem preparado.
Xtp – Uma pesquisa de um grande instituto mundial apontou que a xícara de café no Brasil está entre as dez mais baratas do mundo. Em média é vendida por 5 reais. Mas há muitos lugares em que o preço é mais elevado. Em Doha, no Catar, custa o equivalente a 23 reais. O que fazer para o nosso café ser mais valorizado?
Marco Valério – Tem, sim, muito a ser feito para agregarmos valor ao café e é justamente o que a Cocatrel tem, incessantemente, procurado fazer. Precisamos agregar valor à marca. Esta é uma história antiga que, enquanto a Colômbia investia pesado no marketing do seu café, aqui no Brasil não se falava nada e estavam todos muito mais preocupados com a quantidade, a alta produção dos cafés. Portanto, eles agregaram valor à marca e nós, aqui, não. Então, precisamos agora, remar, para reverter isso. Felizmente o café está passando por um processo de glamorização e isso é muito bom, pois teremos esse valor agregado.
Xtp – A Cocatrel vem batendo recordes em cima de recordes no recebimento de cafés. Os melhores números apontam para 22 mil sacas/dia. Mas no último dia 13 de julho passou das 23,6 mil. Ou seja, a Cocatrel realmente impressiona com seu crescimento. A ponto de transformar, pelo menos para ela, para o setor, uma data considerada pessimista (sexta-feira 13) num dia de muita sorte e excepcionais resultados. É isso mesmo?
Marco Valério – Não havia pensado nisto, nem feito essa analogia do nosso recorde de venda com a data, uma sexta-feira 13. Mas gostei muito da sua pergunta, sua analogia. Realmente no dia 13 deste mês alcançamos o recorde de 26.436 sacas em um único dia. Importante dizer que quando começamos a divulgar esses números foi um demonstrativo de que estamos tralhando com transparência. Mas é um assunto delicado, pois há quem diga que uma divulgação dessa pode derrubar o mercado. Até acho que a Cocatrel tenha muita força, mas a questão é mundial, muito mais ampla. Optamos por ser transparentes e verdadeiros, comunicar o que ocorre de fato, em respeito ao nosso cooperado. Lembro que no passado era muito difícil recebermos mais de 20 mil sacas, em um único dia e, quando isso ocorria, gerava filas intermináveis. Eu sou fazendeiro e lembro de 100 caminhões na fila. No passado essa fila era motivo de orgulho e hoje não é mais. Nosso orgulho é o recebimento rápido, com eficiência, tecnologia e agilidade. Temos mais capacidade de recebimento, com qualidade e segurança. Por isso vivemos agora com recordes sucessivos. É um novo mundo sendo criado e nos próximos dias chegaremos ao recebimento de 1 milhão de sacas nessa safra. Teremos um volume recorde e histórico nesse ano. A safra não será recorde, mas o nosso recebimento será, devido ao nosso preparo, ao aumento da confiança e do nosso quadro de cooperados e na eficiência dos nossos colaboradores, aos quais só temos a agradecer.
Xtp – Suas considerações finais.
Marco Valério – Estou imensamente feliz de estar na Cocatrel, sei do tamanho da responsabilidade em presidir uma empresa desse porte, principalmente na questão social. Sinto-me honrado e preparado por estar bem apoiado por uma diretoria eficiente, grandes colaboradores e produtores mais antenados. Temos feito uma aproximação grande com o cooperado, através da mídia e queremos comunicar cada vez melhor, através da imprensa local. Parabéns pelo trabalho do Conexão, que eu já conhecia, agradeço imensamente a oportunidade e, como você mesmo disse, que seja essa a primeira entrevista de várias. Um abraço a todos!
www.facebook.com/conexaotrespontas
Roger Campos
Jornalista
MTB 09816
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