“Quero que todos entendam que os recursos precisam vir para que as coisas funcionem. Não é questão de querer fechar. Que fique claro que não é greve. Não temos recursos para que os atendimentos continuem, é claramente isso!”

Foram mais algumas horas de luta da atual diretoria da Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis para tentar evitar o que todos temiam. Mas os últimos esforços nesta quarta-feira (11), bem como nas primeiras horas da manhã de hoje (quinta-feira), não surtiram efeito e as portas da Maternidade e do setor de Pediatria estão fechados.

Maternidade aberta virou coisa do passado.

ENTENDA: Por que a Santa Casa chegou nessa situação?

Na semana passada o Conexão publicou que havia rumores desse fechamento. Na última terça-feira a direção a Santa Casa, através do provedor Michel Renan Castro, do diretor técnico Dr. Geovanni de Barros e do diretor clínico Dr. Eduardo Vasconcelos, reuniu a imprensa da região para oficializar essa interrupção no atendimento, explicar os motivos e ainda, como última tentativa, implorar pela compreensão do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, tido como o principal responsável pelo agravamento da crise desta e de outras santas casas ligadas a Federassantas, por conta da falta de repasses para essas unidades. Somente para o Hospital de Três Pontas o estado deve, segundo a atual diretoria mais de 5 milhões de reais.

“Se o problema não for resolvido rapidamente o setor de clínica médica será o próximo a fechar e em seguida a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).”

“Está tudo lá no Portal Transparência, para quem quiser ver”, disse Michel Renan.

Na coletiva o provedor começou falando. Disse que somente referente aos repasses de 2018 que não chegaram o valor passa dos R$600.000,00.

“Nós deveríamos receber verbas federais, estaduais e também do município. Mas o estado continua não honrando seus compromissos. Nós estamos diariamente juntos aqui na Santa Casa, amigos em prol do Hospital, em comum acordo em busca de soluções. Nós tivemos a reunião no Ministério Público para comunicar o fato. O problema todo é justamente a falta de pagamento dos salários dos médicos que trabalham e que têm todo direito de receber, claro. Nós também conversamos com esses médicos na tentativa de achar um caminho, mas não foi possível. Quero que todos entendam que os recursos precisam vir para que as coisas funcionem. Não é questão de querer fechar. Que fique claro que não é greve. Não temos recursos para que os atendimentos continuem, é claramente isso!”, comentou o provedor.

Não estamos conseguindo manter as escalas da maternidade e da pediatria. Por isso, por pensar na segurança dos pacientes, que poderiam ser colocados em risco, é que as atividades estão suspensas. A partir de hoje pacientes desses dois setores terão que procurar atendimento em outras cidades”.

“A partir de hoje, quinta-feira, eu não tenho mais escalas, médicos para o atendimento da parte de obstetrícia. Nós fizemos até aqui tudo que pudemos, inclusive eu e o Dr. Geovanni cobrindo plantões, dando a mão onde era possível, mas não teve mais jeito, pois há dois meses essa situação piorou drasticamente, sem a vinda de recursos do estado de Minas Gerais”, pontuou o diretor clínico Dr. Eduardo.

“Os médicos estão sem receber seus salários, estão indo trabalhar em outros lugares. Outros profissionais, sabendo do quadro, não querem vir pra cá. Não estamos conseguindo manter as escalas da maternidade e da pediatria. Por isso, por pensar na segurança dos pacientes, que poderiam ser colocados em risco, é que as atividades estão suspensas. A partir de hoje pacientes desses dois setores terão que procurar atendimento em outras cidades”, emendou.

O diretor técnico, Dr. Geovanni, falou que o plantão de clínicas é mais tranquilo, pois ainda há mais profissionais. “Pra que as pessoas entendam, estávamos tendo apenas 60% do plantão coberto na maternidade e na pediatria. E o problema não se resume apenas ao fechamento dessas duas unidades. Se o problema não for resolvido rapidamente o setor de clínica médica será o próximo a fechar e em seguida a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Médicos externos, que são de outras cidades, não estão querendo continuar vindo e trabalhando sem receber seus salários, o que demonstra que não estava faltando médico, e sim faltando pagamento”, elencou Dr. Geovanni.

Da esq. p/ dir. o diretor clínico Dr. Eduardo Vasconcelos, o provedor Michel Renan Simão Castro e o diretor técnico Dr. Geovanni de Barros Pereira.

O provedor da Santa Casa de Três Pontas lembrou que os recursos da Prefeitura Municipal de Três Pontas e do governo federal estão em dia. “Eu quero lembrar que estamos lutando e pedindo para que o governador Pimentel olhe pelas Santas Casas. Que ele pense com carinho, pois saúde é coisa séria e é muito complicado para o doente enfrentar hospital, imagine então ter que se deslocar para outra cidade. São quase 150 mil pessoas que dependem da nossa Santa Casa e uma média de 400 atendimentos por dia. É frustrante saber que temos toda essa estrutura e que continuamos agonizando por falta de dinheiro, de recursos do estado”, ponderou.

Há um passivo (uma dívida da gestão anterior da Santa Casa) referente há 4 meses de salários que não foram pagos, o que totaliza R$1.800.000,00. Como se não bastasse, agora há também o atraso de dois meses com esses médicos que a atual diretoria tem mostrado empenho, inclusive com respaldo e apoio de toda população trespontana, para tentar reverter o quadro cada vez mais caótico.

A atual diretoria apesar de não dever para instituições financeiras, lembrou que o nome da Santa Casa está no vermelho, o que dificulta a vinda de recursos. Poucos fornecedores estão com recebimentos por parte do HSFA atrasados. Não há dívidas com os funcionários. A antiga dívida gigantesca da Santa Casa, que era de 19 milhões, assim que eles assumiram, caiu, graças ao trabalho sério e totalmente as claras (exigência do provedor) para 14 milhões de reais.

Quanto a Prefeitura Municipal de Três Pontas, Michel Renan disse que através de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) o hospital recebe 1 real por habitante por mês, o que totaliza R$ 57.000,00. Também há o recebimento de R$0,40 per capita referente a uma pactuação para cobrir gastos com o setor de neurologia. Há ainda uma gestão pactuada com o Pronto Atendimento Municipal. “Fora isso, de subvenção realmente por parte da Prefeitura, nós recebemos cerca de R$1.000.000,00 por ano, o que dá um valor mensal de cerca de R$80.000,00. Porém há sempre extrapolamentos (existe um atendimento maior que não está sendo pago) e para que realmente essa verba fosse suficiente ela deveria girar entre R$180.000,00 a R$200.000,00 por mês”, explicou Michel Renan.

Questionado pelo Conexão, o provedor disse que há um déficit mensal em torno dos R$400.000,00 na Santa Casa e que isso seria sanado caso os municípios de Boa Esperança, Ilicínea, Coqueiral e Santana da Vargem (única que resolveu ajudar) fizessem a sua parte, ou seja, pagando pelo atendimento feito aos seus munícipes.

“A Santa Casa não é de Três Pontas e sim da microrregião. Se nós prestamos esse atendimento a eles, essas prefeituras deveriam ajudar”, emendou Renan.

A situação do déficit só não é mais complicada por conta de algumas emendas parlamentares enviadas ao HSFA e pelos eventos e tentativas de angariar alguns recursos aqui e ali. Os diretores, que têm passado praticamente dia e noite na Santa Casa, lembraram que Diego Andrade, Mário Henrique Caixa e Dimas Fabiano aportaram recursos na entidade.

“A população sempre está junto e não nos deixa sofrer sozinhos. Tem ajudado muito e é digna de aplauso.”

Os médicos, segundo os diretores, não querem parar, não querem fazer greve. Eles apenas querem, o que é digno e de direito, o recebimento pelo trabalho.

Dr. Geovanni disse ainda que não descarta a possibilidade do Hospital, como um todo, fechar as portas em breve, caso nada seja feito, caso o governo de Minas continue não cumprindo com seus deveres, suas responsabilidades.

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Roger Campos

Jornalista

MTB 09816

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