Nesta sexta-feira (15) completa um mês que três dos cinco presos na operação Trem Fantasma, deflagrada principalmente em Três Pontas – terra do ex-Vice-Presidente da República Aureliano Chaves – e ainda em Coqueiral, permanecem encarcerados no Presídio localizado na Avenida Caio de Brito, no centro de Três Pontas. Roberto Barros de Andrade, Gileno Marinho e Nicésio Campos foram presos no dia 15 de maio, juntamente com Francisco Henrique e Ralph Duarte Funchal, acusados de desvios de recursos públicos da Prefeitura Municipal.

A megaoperação Trem Fantasma mexeu com os pilares da política trespontana no ano de 2018. Desde a denúncia feita pelo vereador Roberto Donizeti Cardoso (PP) ao Ministério Público, secretários do governo do então prefeito Dr. Luiz Roberto Laurindo Dias (PSD) e servidores públicos municipais foram presos. A cidade praticamente parou diante dos escândalos e, principalmente das prisões de membros da mais alta confiança do ex-chefe do Executivo Municipal, como os secretários Gileno Marinho e Roberto Andrade.

Participaram da ação 37 policiais militares, oito promotores de Justiça, sete servidores do Ministério Público, 12 fiscais da Receita Estadual e um policial civil. A ação do MPMG aconteceu através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), núcleo Varginha, em conjunto com a 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Três Pontas.

Além das prisões foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e ações fiscais da Receita Estadual. Empresas fornecedoras de peças e combustíveis também foram averiguadas. Há a suspeita de fraude na execução de contratos de fornecimento de peças e combustíveis na Prefeitura de Três Pontas, entre os anos de 2017 e 2018. Máquinas e veículos municipais já “aposentados” estariam “recebendo peças e combustíveis”.

O trabalho de investigação chegou a fechar a Prefeitura Municipal e o Almoxarifado, quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão, computadores confiscados, documentos, celulares, quatro armas de fogo e munições. Decretou-se ali a prisão temporária dos cinco investigados que foram levados para a sede da Delegacia da Polícia Civil diante de uma multidão que se concentrou na Praça Tristão Nogueira, se manifestando com gritos e xingamentos contra:

_ Gileno Marinho, então Secretário de Transportes e Obras;

_ Roberto Barros de Andrade, Secretário Municipal de Fazenda;

_ Ralph Duarte Funchal, Chefe da Divisão de Apoio Administrativo;

_ Francisco Henrique de Araújo (Chefe da Divisão Mat. Pat. Serv. Gerais;

_ Nicésio Campos Silva, chefe da Divisão de Tesouraria.

O principal alvo dos xingamentos foi o ex-Secretário Gileno Marinho. Até fogos de artifício foram ouvidos. Eles estavam algemados e foram colocados nas viaturas policiais e levados ao Presídio de Três Pontas. Francisco Henrique teve a prisão revogada no dia 18 de maio, data em que as prisões temporárias dos outro quatro investigados foram revertidas em prisões preventivas.

O caos político em Três Pontas ganhou mais um capítulo no dia 19 de maio quando a então chefe da Guarda Civil Municipal, Leonara Naves, foi presa em casa, acusada de envolvimento num incêndio criminoso realizado na sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente que culminou com a queima de importantes documentos da Prefeitura Municipal. Também era acusada de dificultar as investigações ela foi solta somente no dia 19 de maio.

Por conta de todo o volume e gravidade das denúncias, inicialmente o então Prefeito Dr. Luiz Roberto chegou a convocar uma coletiva afirmando estar surpreso com as denúncias e que apoiava totalmente as investigações, a ponto de solicitar uma sindicância interna na Prefeitura de Três Pontas. Mas a população trespontana, correligionários e até o então Vice-Prefeito Marcelo Chaves Garcia, no dia 22 de maio, foram pegos de surpresa com o anuncio da renúncia do Dr. Luiz Roberto, transmitida ao vivo pelo Conexão Três Pontas e Rádio Sentinela FM. Desde então Marcelo Chaves Garcia comanda a cidade como prefeito.

No dia 04 de junho o Ministério Público concedeu entrevista coletiva ao vivo. Os promotores Dr. Igor Serrano (Responsável pelo Gaeco), Dra. Ana Gabriela e Dr. Arthur Foster elencaram uma série de fatores que motivaram a denúncia contra sete pessoas. Apesar de não revelarem os nomes dos outros dois envolvidos, adiantaram que um é empresário e o outro também é servidor da Prefeitura Municipal.

Questionados pelo Conexão, os promotores disseram que o “esquema fraudulento” pode envolver outras prefeituras, como a de Santana da Vargem. “Nós não descartamos essa possibilidade e estamos investigando esse tema, inclusive a possível participação de outras secretarias”, pontuou Dra. Ana Gabriela.

No dia 14 de junho o ex-servidor Ralph Duarte Funchal teve aceita uma liminar, através de um pedido de Habeas Corpus impetrado por seu novo advogado Dr. Gabriel Ferreira e deferida pelo Desembargador Dr. Eduardo Brum. Ele foi solto às 19 horas desta quinta-feira.

O MP denunciou criminalmente sete pessoas pela prática de 24 crimes na Operação Trem Fantasma. A operação investiga fraudes em contratos para compra de peças e combustíveis na Prefeitura Municipal. A denúncia feita pelo MP, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), é baseada na prática de organização criminosa, embaraço às investigações, peculato, fraude em licitação e fraude na execução de contrato, entre outros.

FUTURO POLÍTICO DE TRÊS PONTAS

Três Pontas, uma cidade que sempre viveu a política de forma quente e pesada, pelo menos nos últimos 20 anos, vem sendo polarizada entre dois grupos políticos: de um lado os apoiadores do ex-Prefeito Paulo Luis Rabello e do outro o grupo de apoio ao ex-Senador Clésio Andrade e ao seu sobrinho, o Deputado Federal Diego Andrade. Os atritos e acusações entre os seguidores e adeptos desses polos políticos sempre ganharam espaço na mídia e se tornaram corriqueiros. O Município que já teve um Vice-Presidente da República, que já cassou prefeito e vereadora, vive em constante ebulição. Mas nada como o que se tem visto e vivido nos dias atuais.

Para as próximas eleições acreditava-se numa nova disputa entre os ex-prefeitos Paulo Luís Rabello e Dr. Luiz Roberto Dias. Rabello já foi prefeito por dois mandatos e não descarta comandar a cidade pela terceira vez. Dr. Luiz Roberto chegou a cogitar a reeleição antes de todo o escândalo ser deflagrado pela operação Trem Fantasma. Atualmente, o que se especula, é que Paulo Luis segue determinado a disputar mais uma eleição. O atual Prefeito Marcelo Chaves, que terá 2 anos e meio de mandato, deve concorrer não mais como vice e sim como chefe do Executivo. O presidente da Câmara Luis Carlos da Silva também tem o nome ventilado para a disputa ao trono máximo de Três Pontas. Outro que vem ganhando força e espaço é o empresário e provedor da Santa Casa Michel Renan Simão Castro. Há ainda mais dois ou três nomes sendo estudados pelos partidos políticos, dentre eles Dr. Luciano Diniz e o Vereador Maycon Machado.

Ou seja, tudo indefinido, já que ainda é cedo, como dizem os possíveis candidatos. Mas inegavelmente tudo caminha para o já tradicional arroz com feijão, o “mais do mesmo”, caso nada de extraordinário aconteça, já que, comprovadamente, em Três Pontas no meio político, tudo é possível…