Ela contou ao Conexão o trauma de ficar 33 horas no local, sem qualquer assistência.
Formada em Comércio Exterior, a trespontana Tamiris Sacho Mendonça, 26 anos, estava os cerca de 80 brasileiros que ficaram retidos, sem qualquer assistência, por mais de 24 horas, no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, em meio a pandemia de coronavírus. A própria Tamiris e a tia Tânia Sacho Porto entraram em contato com o Conexão Três Pontas na tarde desta sexta-feira pedindo a divulgação do fato e nossa ajuda para que o governo brasileiro, o Itamaraty, tomasse alguma providência. Dentre os passageiros brasileiros também estavam crianças e idosos.
O voo 1137 da Latam estava marcado para decolar na quinta-feira (09) à noite, mas apresentou problemas técnicos. Brasileiros reclamaram que receberam apenas um lanche e que a polícia local só permitiu a ida para hotéis àqueles que tinham residência no país.
Os fatos
Os passageiros publicaram uma carta nas redes sociais que também foi encaminhada às autoridades brasileiras. O documento, postado por Natália Belian, em nome de todos os passageiros brasileiros, mostra a cronologia do descaso:
_ Voo agendado para 21h00.
_ 20h45 Anúncio que o voo estava com problemas de manutenção e a previsão de dar um retorno em 1h.
_ 21h00 Confirmaram que entrariam em contato em mais 1h.
_ 22h00 Anunciaram o início do embarque.
_ Dentro do avião, os funcionários da Latam foram chamados e orientados a não iniciarem as atividades e começar a separar lanches em sacolas.
_ 22h50 Dentro do avião, anunciaram que o voo estava cancelado, para todos ficarem tranquilos que teriam alimentação, transporte e hotel até o voo do dia seguinte (10/04/2020) às 21h.
_ Ao sair do avião, funcionários da Latam disseram que iriam entregar as bagagens, minutos depois disseram que as bagagens ficariam presas dentro da aeronave.
_ 23h20 Os passageiros foram encaminhados para a área da emigração em que foi orientado que as polícias alemãs não liberariam os brasileiros para irem ao hotel, apenas brasileiros com permissão de residência na Alemanha.
_ 00h22 Funcionários da Latam disseram para os brasileiros procurarem um lugar para dormir no aeroporto e que deveriam passar novamente pela inspeção/segurança do aeroporto.
_ Durante a passagem pela segurança uma passageira foi intimidada por uma funcionária da Latam por estar gravando a situação das pessoas. A mesma funcionária tentou pegar o celular da passageira e foi chamar o policial alemão para intimidar novamente a passageira.
_ Com ironia, a mesma funcionaria intimidadora informou que caso algum passageiro quisesse tomar café da manhã deveria procurar o McDonald´s.
_ Não houve nenhuma informação orientando como seria a alimentação dos passageiros.
_ Após passar pela segurança, os passageiros confirmam que todos os funcionários da Latam foram para o hotel, nenhum funcionário ficou acompanhando os passageiros.
_ Não houve condições de higiene para os passageiros.
_ Não foi confirmado se houve alguma desinfecção do aeroporto.
_ Não havia nenhum profissional da área da saúde acompanhando os passageiros.
_ Havia passageiros idosos, crianças de colo, pessoas com comorbidades (A comorbidade é a ocorrência de duas ou mais doenças relacionadas no mesmo paciente e ao mesmo tempo).
_ Não houve a disponibilização de água e nenhuma prestação de serviço dentro do aeroporto.
_ Não houve a confirmação do novo voo.
_ Todos os passageiros ficaram sem acesso as suas bagagens.
_ 22h58 )s passageiros entraram em contato por meio do telefone com o Ministério de Relações Exteriores de brasileiros na Europa. O atendimento foi realizado pelo colaborador Roney, que retornou e orientou os passageiros a entrarem em contato com o Consulado brasileiro e que já estavam em contato com a Latam.
_ 01h57 Roney, do Ministério de Relações Exteriores, ligou informando que o plantão estava sendo transferido para o colaborador Igor.
Até as 02h15 do dia 10/04/2020 não foi apresentado nenhum suporte, como insumos básicos, como máscaras, álcool, medicamentos para os passageiros.
Conforme a regulamentação da ANAC, a companhia aérea deveria ter e utilizar um plano de contingência, apresentar todas as condições básicas de saúde aos passageiros.
Dentre as reivindicações dos brasileiros retidos no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, a principal era a repatriação dos brasileiros no próximo voo, do dia 10/04/2020. Também solicitaram que durante o período de espera que os passageiros tivessem auxílio alimentação, higiene e informações corretas. Que fossem tratados com dignidade e respeito.
A trespontana Tamiris falou da experiência traumática ainda enquanto estava no aeroporto alemão:
“Oi Roger, é a Tamiris. Estou presa no aeroporto de Frankfurt tentando voltar para o brasil. Estamos em mais ou menos 80 brasileiros e tem idosos e crianças. A Latam cancelou nosso voo ontem a noite. Já estamos no aeroporto há 24 hrs. Sem apoio nenhum! Não fomos encaminhados para um hotel pois a imigração da Alemanha não liberou nossa saída do aeroporto. Dormimos aqui em cadeiras. Não tivemos acesso a travesseiros, cobertores, comida, produtos de higiene. Se puder, divulgue por favor!”.
Tamiris e os demais passageiros já retornaram ao Brasil, desembarcando no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Alguns deles, que precisaram fazer conexões para outros estados brasileiros, alegaram não ter conseguido remarcar os voos sequentes.
Na manhã deste sábado (11) a jovem estudante, que ficou na Irlanda durante 6 meses aprimorando seu inglês, conversou novamente com nossa reportagem. Ela reforçou que o retenção no Aeroporto de Frankfurt não tem nenhuma relação com suspeita de algum caso de coronavírus no voo 1137 da Latam. O motivo alegado foi problemas técnicos na aeronave. A companhia interromperá os voos internacionais a partir da próxima segunda-feira.
Tamiris contou ainda que na chegada ao Brasil os passageiros ficaram retidos por cerca de 50 minutos dentro do avião, quando tiveram suas temperaturas aferidas. “As bagagens foram tiradas primeiro do avião e nós passamos pelos exames para descartar ou confirmar qualquer caso de coronavírus. Felizmente todos estão bem. Ficamos pouco tempo no aeroporto em São Paulo. Mesmo estando bem fomos orientados a usar máscara e ficar de quarentena por 14 dias”, revelou.
Ainda conforme a jovem estudante, antes de ir para a Irlanda estava morando e trabalhando em Santa Catarina com a tia Tânia. Tamiris disse ainda não ter uma definição se ficará para Três Pontas ou se voltará para o sul do Brasil.
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Roger Campos
Jornalista
MTB 09816
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